O que pensar destas 'boutades'?
Voltando à vaca fria.
Quando Passos Coelho interroga se “ as pessoas estão proibidas um dia depois de sair do Governo de poder trabalhar?” link está, de facto, da fazer chicana política. Coisa de que se apressa a acusar ‘os outros’.
O que apetece dizer é que ‘as pessoas’ depois de saírem de um Governo não precisam de trabalhar. A não ser que se considere como uma profissão a traficância de influências ou a transformação em correia de transmissão de ‘inside trading’. São os inefáveis ‘comendadores’ do estertor da monarquia e dos anos obscuros do fascismo salazarento.
Salvo honrosas exceções os políticos não regressam ao exercício das suas competências profissionais sejam técnicas ou académicas onde trabalhavam antes de passar por desempenhos públicos.
Para os políticos que terminam mandatos criou-se um novo grupo laboral: os consultores. O percurso deste novo jobbing é muito remoto e provavelmente insere-se nos velhos papéis tribais desempenhados por sacerdotes ou feiticeiros.
Dos consultores mais remotos será de destacar os sacerdotes do oráculo de Delfos celebres pelas suas vagas e indefinidas profecias transmitidas por 'pitonisas' em transe. É um ‘mister’ que manifestamente faz uso do que sabe ou soube, contactou (profunda ou superficialmente) e até sobre aquilo de que é um ilustre ignorante.
O(a) consultor(a) para ser credível deve possuir algum tipo de influência. Seja política, seja científica, seja profissional, seja intelectual, ou outra.
Alguns destes predicados não são condição sine est qua non para o exercício de funções públicas mas sempre se adquire aí esperteza saloia, flexibilidade (de postura e princípios) e ‘golpe de rins’ ('jogo de cintura').
Poucos portugueses conheciam as qualidades de gestor de Passos Coelho na Tecnoforma (desde a sua entrada até à insolvência). Como também ninguém parece reconhecer (até o bem informado Paulo Portas mostrou 'isso' em 2013) a licenciada em Economia pela Universidade Lusíada e mestre pelo ISEGUTL como uma proeminente académica ou uma reputada especialista em finanças públicas.
A consultoria não é propriamente um emprego e incorpora diversas matizes (uma delas é a de ‘administrador não executivo’) e, na prática, são conhecimentos ou melhor ‘saberes’ adquiridos ad hoc, ou em ambientes fechados e circunscritos ('inner circle' político/partidário), que posteriormente se vendem a retalho num mercado com características leiloeiras.
O mesmo consultor – ou a mesma empresa de consultoria – pode dar conselhos a 2 ou 3 empresas concorrentes. Trata-se de um mix de virtuais competências (não necessariamente virtuosas) com elevada aleatoriedade de produção e com resultados de difícil escrutínio. Muitos dos consultores enveredam por uma outra actividade hoje em dia com muita saída: tornam-se comentadores ‘orgânicos’ (opinion makers) em tudo o que é meio de comunicação social.
Passos Coelho, não conseguiu ‘limpar’ a atitude de Maria Luis Albuquerque que na verdade é indefensável. Mas produziu declarações que envergonham a atividade política, na medida em que não separando as águas, nem defendendo um período de nojo, acabou por fazer o elogio da promiscuidade entre política, negócios e carreirismo. Muito liberal. Não deveria ter produzido semelhantes afirmações num momento em que tenta desesperadamente afivelar uma máscara ‘social-democrata’.
Comentários
Neste caso, a Sra. Deputada não defendeu os interesses do estado, quando era ministra, há menos de um ano, vendendo ao desbarato o que pertencia ao erário público, em troca de apropriação de ordenados futuros, isto é, em troca de dinheiro (70.000€/ano x 5 anos = 350.000€). Em termos judiciais isto indicia haver o crime de “participação económica em negócio”. É crime, e dá prisão!
O mesmo se passou com a derrapagem financeira nas obras do Metro, estação do Terreiro do Paço, solucionada por certo ministro que depois foi para manda-chuva máximo da empresa que construiu aquela estação de metro...
Tudo como d'antes no Quartel de Abrantes...