A entrevista de Sócrates ao Expresso
Penso que seria uma imensa cobardia não me pronunciar sobre a entrevista de Sócrates ao Expresso. O facto de muitos dos meus amigos lhe terem um ódio de estimação, não é motivo para me coibir.
Foi uma entrevista de grande qualidade intelectual e política onde a determinação e a cultura revelam a maturidade de um ex-primeiro-ministro, cuja qualidade de governante me abstenho de apreciar porque é da entrevista e das ondas que provocou que ora cuido.
Surpreende-me que os adversários de Sócrates poupem Santana Lopes e Durão Barroso cujas ambições políticas têm por aí uma legião de saprófitas à espera de lhes dar a oportunidade que falharam da primeira vez. Porquê um ódio primário a Sócrates cujo carácter é sempre o alvo e raramente a sua governação?
Vi ataques com base numa frase, retirada do contexto, por quem não leu a entrevista. Vi acusações de autismo a quem não recusou expor-se e responder a todas as perguntas, e a condenação por não querer sujeitar-se a escrutínio eleitoral sem que a afirmação, «Não tenho vontade ou ambição de desempenhar um cargo na política ativa», fosse suficiente.
Sócrates fez acusações graves a diversas criaturas, desde a infâmia das escutas de que, magnânimo, absolve o PR e implica a sua Casa Civil, até às acusações de homossexual, denúncias que ganharam solidez na alusão torpe que Santana Lopes lhe fez, em direto, na televisão, num debate eleitoral.
Não me surpreendem os ódios e os amores arrebatadores mas a irracionalidade de quem, tendo experiência política, não consegue relativizar a campanha de que Sócrates é alvo, três anos depois de ter perdido as eleições. Parece o único PM a ter existido, tal o ódio e a paixão que ainda desperta.
A própria linguagem revela um homem descontraído mas que faz mais pelo seu partido no afastamento da vida política do que os políticos em atividade no PS.
Agora só espero que os atingidos provem a falsidade das acusações de Sócrates já que, quanto à demolição do PEC IV, está sobejamente provada a autoria.
Exige-se o contraditório, sob pena de ficarem mal vistos os visados e os que fazem coro.
Comentários
E o Mário Soares não foi também primeiro-ministro em Portugal ? Não foi no seu tempo que houve fome em Setúbal ? Não foi ele quem pediu também a intervenção do FMI e que meteu o socialismo na gaveta ? Há muita memória curta nesta jangada de pedra.
Qual é o problema das PPP, os swaps e quejandos? não existe um governo? esse governo não sabe legislar?
O Mário Soares herdou os problemas da AD, do virtuoso Cavaco como M. Finanças, e resolveu o assunto como lhe competia.
Que tal ler um bocadinho, em vez de ouvir os avençados, sobre a economia do país nos últimos 50 anos?
Ai sim ? Então por essa lógica, o actual governo também não herdou a falência técnica do nosso país, deixada pelo menino Lé Lé Zéquinha, mais conhecido por José Sócrates ?
O tal que se pôs a andar para Paris depois de deixar o país falido aos portugueses.
E que aparece agora nos écrans da RTP, com aquela cara de sonso, como se não fosse nada com ele?
Se o ridículo pagasse imposto, José Sócrates devia ser fiscalmente penalizado.
Todavia, o que se está a passar aqui ao lado - em Espanha - continuará por muito tempo a levantar muitas interrogações sobre a possibilidade de termos resistido à vinda da 'troika'.
Umas boas como por exemplo não ter de aturar os senhores de fato cinzento de 3 em 3 meses a dar 'ordens' e outras más se olharmos para um 'ajustamento brutal à custa do desemprego e do devastador empobrecimento.
O drama foi a pressa da Direita em governar com um programa político e económico neoliberal e por outro lado a Esquerda não ter compreendido a globalidade e a gravidade da situação.
Faltam-nos o necessário distanciamento histórico para fazer uma avaliação concreta sobre a crise que varreu a Europa do Sul e as suas verdadeiras origens e consequências. E quando digo Europa do Sul estou a excluir deliberadamente a Irlanda com quem este Governo gosta de se comparar mas que pouco ou nada tem a ver com os problemas ('resgate') que estamos a viver.
Aliás, uma das particularidades da nova retórica política é a ausência de comparações com a Grécia. E esta particularidade não é um acidente...
Falta aos fatos e gravatas que se sentam nas cadeiras do "poder democrático" coragem e, como dizia o outro, espinha para romper com o servilismo que aceitaram cumprir.
Romper com essa condição era simplemente admitir-se incapaz, apresentar a demissão ao povo. Em vez disso dizem que não abandonam Portugal, que não viram a cara à luta. Dedicam-se ao jogo sujo, às sacanagens entre si e a aproveitarem-se da ingenuidade e ignorância dos portugueses.
Basta lembrar que a Constituição de 1933 foi plebiscitada mas não fará compreender isso aos fascistas.
Há limites para a palermice, e para a sua exibição pública.
Porque é que não lês alguma coisa, porque é que não procuras informar-te e saber o que acontece, porque é que te limitas a emprenhar de ouvido, com as cantilenas do CM e outros parecidos?
Não tens "pachorra", dizes tu e eu entendo.
Mas depois não venhas dizer que te comeram por parvo, e que foste o último a saber.
O Sócrates (que tem montes de defeitos e cometeu muitos erros) foi o homem público mais caluniado, mais injuriado, mais perseguido, mais 'intrigado', mais denegrido, mais devassado, mais marcado e acusado da última década, num processo que não tem paralelo desde o marquês de Pombal. E no entanto foi o último primeiro-ministro patriota a que tiveste direito.
Nunca te perguntaste porque é que estas pseudo-elites, estas oligarquias, e esta comunicação social que reproduz a voz do dono o sujeitaram a tal tratamento. Nunca te perguntaste, porque não tens 'pachorra'. Mas ao menos não reproduzas asneiras.