Cavaco Silva – Preso por ter cão e preso por não ter

Não preciso de explicar que tenho pelo PR o respeito mínimo a que o Código Penal me obriga; que nutro pelo atual inquilino de Belém a maior animosidade; que se pode dizer que é um inimigo íntimo que julgo capaz de quase tudo e incapaz para quase nada. É, de facto, uma animosidade permanente que lhe dedico, por mérito dele e não por obsessão minha.

O que não pode é atacar-se o PR, que cumpre mal as funções que lhe foram conferidas, por aquilo que não fez nem deve. Não se pode acusar de ser responsável pelas relações que o Governo de Angola pretende deteriorar ou pelas investigações que quer paralisar.

O Governo angolano, incapaz de compreender o que é um Estado de direito, entende que o PR, o PM e os Tribunais são responsáveis pela averiguação de eventuais crimes de altos dignitários que aliam o exercício do poder à suspeita de cleptomania.

A única queixa que é legítima, é a constante fuga do segredo de Justiça, lepra que corrói o sistema judiciário, permite linchamentos na praça pública e acaba muitas vezes por ser uma punição maior do que a prova dos alegados crimes consentiria.

O que não pode o Governo de Angola ou o seu órgão oficioso, Jornal de Angola, é fazer chantagem sobre as instituições portuguesas, acusar o PR ou o PM de responsabilidade na averiguação de suspeitas a que são alheios, e anunciar represálias ao funcionamento normal das instituições democráticas.

O silêncio do PR, neste caso, é atitude de Estado e defendê-lo uma obrigação patriótica.

Comentários

e-pá! disse…
O problema das relações Portugal/Angola observado como um exercício bilateral de respeito, cooperação e entreajuda, envolvendo dois países soberanos (deixemos de lado a carga histórica e os traumas coloniais) é a dificuldade que Luanda tem de compreender a separação de poderes num Estado democrático.
E a 'cacofonia' que se instalou em Lisboa e que envolve diversos orgãos de soberania e lobbys económico-financeiros é preocupante. Cavaco Silva não conseguiu (não sabe ou não deseja) distanciar-se desta 'babel de confusões'.
Obssecadas e precipitadas tentativas, politicamente descordenadas, no intuito de alterar o actual estado das relações bilaterais, não ajudam em nada.
Luanda, parece estar à procura de um interlocutor único, forte e todo-poderoso. Como sabemos, tal personagem não existirá em Portugal, enquanto vivermos sob um regime democrático.
De maneira que é mais do que necessário deixar assentar a poeira e arranjar um novo interlocutor diplomático (Machete já nada tem a fazer) respeitado e respeitador. Há, no entanto, um aviso que é pertinente. Por um mínimo de respeito para com a nossa dignidade o País espera que o Governo não envolva o ex-ministro Miguel Relvas neste caso. Um problema basta. Dois é um pesadelo.
Manuel Galvão disse…
Só falta pedirem a cidadania portuguesa para os angolanos descendentes de vítimas dos negreiros portugueses... benesse concedida há pouco aos descendentes de judeus vítimas das expulsões de D. Manuel I.

Vale tudo, para "captar investimento"!

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