‘Incorrecções factuais’ inquinam o País…

Mário Soares sugere que Cavaco Silva devia ser "julgado" por causa do BPNlink

Esta viperina tirada de Soares indignou profundamente a Direita portuguesa. Mas não será totalmente despropositada, nem mais uma desbragada ‘tolice soarista’.
Embora possa existir, formalmente, um evidente excesso da parte de Soares em relação ao Presidente da República em exercício, a verdade é a declaração de Soares aos jornalistas que veio escarificar e desbridar uma ferida que foi ‘abafada’ ao longo de anos mas que mantém características dolentes. Ao contrário do que deseja Cavaco esta chaga não cicatrizou mantendo-se presente, no corpo político e social nacional, como se fosse um estigma. Reacende-se cada vez que se agita e agiganta o espectro de um brutal empobrecimento nacional. Será a súbita – e indelével - memória dos inocentes.

A ‘boutade’ de Soares sobre Cavaco, embora circunstancial e nominal, tem necessariamente uma envolvente maior, i. e., revela o que efectivamente está na liça: o ‘julgamento político’ sobre o envolvimento de uma anódina ‘clique cavaquista’ (latu senso), no infame escândalo BPN. Facto que ciclicamente vem à tona na opinião pública (um presidente está permanentemente sujeito a este tipo de escrutínios), que nunca recebeu uma resposta cabal de Cavaco e, por fim, a Justiça revela-se pouco expedita no seu julgamento.

As primeiras referências sobre 'este caso' surgiram na última campanha eleitoral para a PR e foram ‘abafadas’ por espúrias e desconexas justificações de momento que incidiram sobretudo em questões formais e ‘legalistas’ deixando pendentes muitas zonas sombra. 
O discurso de vitória de Cavaco veio acirrar esta redutora concepção de defesa: ao anunciar peremptoriamente a ‘vitória da verdade sobre a calúnialink pretendia ‘sepultar’ as questões então levantadas. Mais não conseguiu do que remetê-las para uma penosa hibernação. E a prova de vida dessa situação letárgica foi a necessidade de mais uma tardia resposta, ontem, protagonizada por Cavaco Silva. Muito bem, passando ao lado das refregas políticas que parecem acentuar-se, entre Mário Soares e Cavaco Silva, os portugueses tomaram novamente conhecimento da uma reactiva ‘versão Cavaco Silva’ (dirigida a Soares mas tornada pública) expressa nos seguintes termos: "Devia saber que esclareci, em devido tempo, que nunca tive qualquer relação com o BPN ou com as suas empresas, a não ser a de depositante para aplicação de poupanças, quando era professor universitáriolink.
Na verdade, esta última vinda de Cavaco a terreiro, pouco ou nada esclareceu os portugueses sobre questões pendentes, desde há muito.
Persiste no ar e sem resposta uma velha ou nebulosa questão: Cavaco Silva foi um simples depositante do BPN ou, cumulativamente, um seu accionista?
Bem, existe aqui uma outra porta para manter acesa a chicana. Formalmente, Cavaco terá sido ‘somente’ um dos accionistas da SLN quer directamente, quer através daquilo que vagamente classifica (para se desresponsabilizar) como abstractas ‘aplicações financeiras’. O que parecendo ser tecnicamente diferente, politicamente não o é, nem consegue chegar ao impossível objectivo de esconder que a SLN era, na altura, a detentora do BPN.

Cavaco Silva sofrerá tal como o seu colega de partido Machete – e por coincidência também ex-accionista da SLN/BPN - de um síndrome de ‘incorrecção factual’?
Haverá remédio para esta ‘doença’?

Comentários

O único remédio seria correr com eles, pois a doença já se tornou crónica e incurável!
Este comentário foi removido pelo autor.
josé neves disse…
Caro,
Passa-se qualquer incompreensível na cabeça dos anti-governo e especialmente simpatizantes do PS.
Como prova este post e tantos outros escritos com identicos subtergugios. Então, o corpo do post acaba por dar razão a MS mas antes começa por chamar-lhe uma "boutade". Mas que raio pensa o postador de MS para pensar que, na políca mesmo, onde MS é rei, o que ele diz, certamente mais que pensado sob a sua longa vida e experiência política contra a ditadura e depois durante o prec, é uma "boutade" e não uma afirmação política pensada e muito planeada?
Afinal o que é fazer política? E o que é fazer política no tempo actual contra um governo como o actual? Será que ainda estamos a viver em democracia ou estamos já no meio termo do caminho entre a democarcia e o totalitarismo?
É ver o ultimo post do Valupi sobre o caso Weimar: há um tempo confuso e nebuloso em que ser tolerante é auto-suicidar-se.
O Val em tempos também se abespinhou com MS por uma declaração sua de cariz semelhante e agora alguns voltaram, como Val na altura, a refugiar-se no argumento da defesa dos valores éticos da pureza democrática. Mas, vive-se hoje por ventura dentro do respeito dos valores democráticos ou governa-se segundo alguma pureza democrática?
Também não me digam, como diz esta direita reaccionária, que é um problema de idade, coitado do "idoso" como em temp+os insinuava o pulha do jmf quando ainda era director do 'público', para depreciar e desqualificar o que dizia MS.
A jmf MS respondeu: deixe lá o idoso para aqui e o idoso para ali, discuta a políca que quanto ao "idoso" a História se emcarregará de discutir.

jose neves
josé neves disse…
Rectificação,
O pulha conspirador jmf apelidava MS não de 'idoso' mas de "ancião", um termo usado propositadamente para insinuar um idoso fora de prazo. E se isto se passava há quase dez anos que esperar dos imensos jmf que governam ou orbitram à sua volta?
O que menos é de esperar é ver gente achar que politicamente faz sentido o que diz MS e depois chamar-lhe "boutade","dito infeliz" ou outro equivalente, diminuindo assim a força propositada do argumento utilizado.
e-pá! disse…
O termo 'boutade' não foi usado com o sentido de sublinhar um 'dito infeliz'. Antes pelo contrário. O que pode ser considerado 'infeliz' - jugo até que o é - foi a sua escolha que se presta a interpretações várias. O significado pretendido para o termo em questão seria, no contexto, o de sublinhar as suas características originais e imprevisíveis, num mundo dominado pelo 'politicamente correcto'.
Por último, um 'esclarecimento' acerca dos 'especialmente simpatizantes do PS'. Não é literalmente meu caso embora tenha de admitir que, por uma vez, votei em Mário Soares para a PR. Embora não nutra uma 'especial simpatia' pelo PS, não alinho, nem cauciono, as habituais diatribes que a direita e a extrem-esquerda habitualmente tecem à volta deste partido político.
Finalmente, o que considero verdadeiramente ofensivo é a insidiosa comparação com JMF...
josé neves disse…
Caro e-pá,
Já fiz um comentário que se perdeu por a caixa de comentários se ter alterado. Agora que me parece em dia como antes só quero dizer-lhe:
Não foi intenção minha qualquer comparação com jmf e muito menos insidiosa. É uma leitura sua forçada como pretexto para dar um pontapé no comentador e esquecer o assunto do comentário.
E o assunto do comentário é a contradição sua, e de muitos bloguers actuais, de considerarem oportunas, certeiras e eficazes as críticas de MS à actual situação e ao mesmo tempo chamar-lhes "infelizes", "inadequadas", etc, sendo incapazes de assumir a coragem e dignidade de dizer claro o que rebuscadamente tentam dizer entre linhas.
Meu caro, o politicamente correcto tem muita força sobretudo quando a nossa é fraca.
Está tudo dito.

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