Como se faz um líder e, até, um PM

Curse a madraça juvenil de um partido da alternância do poder e percorra os degraus que levem da colagem de cartazes à direção da respetiva organização. Cuide do aspeto físico e evite ter ideias. Não crie anticorpos e escolha os amigos, não os que lhe podem fazer sombra mas os que estão dispostos a repartir despojos na hora certa.

Lembre-se de que o aspeto físico é importante e que os sorrisos das companheiras são um esteio forte para as suas ambições. É preciso cativá-las. Valem, pelo menos, votos. Não regatei beijos, abraços, fêveras e bifanas. Beba pela mesma garrafa de vinho de outro cúmplice com a televisão andar perto. Não revela higiene mas mostra que não tem nojo. Não é preciso cabeça, basta estômago.

Depois defenda a representação da quota juvenil na AR, de modo a que possa ser eleito. Durante o mandato viaje sem visitar museus ou perder tempo a ver paisagens, tendo em conta que as visitas a sedes partidárias e aos centros juvenis são investimentos rentáveis. É na paciente tecedura de cumplicidades que o seu futuro político se joga.

Leia os estatutos do partido, mas não lhes dê importância, e não desanime por encontrar as bases programáticas em colisão com o que aprendeu em casa, com a herança que veio de outros tempos ou de outros pensares. Se for preciso ponha um cravo ou a bandeira na lapela.

Quando tiver suficiente força no partido comece por se remeter ao silêncio para, depois, insinuar discordâncias com o líder, seja qual for o pretexto. Ah!, não se esqueça de tirar uma licenciatura. Há imensas universidades a dar diplomas e, se já tiver sido deputado, não precisa de se esforçar. Fuja das que têm docentes que exigem frequências, exames e outros incómodos. Outras, até o convidam para dar umas aulas para o currículo, depois de lhe darem o diploma.

Se nesta altura ainda não tiver um barão do seu partido que o apadrinhe, um desses que já foi ministro e que, não podendo ser primeiro-ministro, se dedicou a ganhar fortunas, é porque você é tão medíocre que não tarda a que os cúmplices o abandonem.

Mas se tudo correr como foi previsto quem correrá com os mais aptos é você. Concorra à liderança num período em que não se prevejam eleições próximas e verá as distritais a apoiar a sua liderança em vez de discutirem ideias ou programas. Nunca descure os seus apoiantes. Vá deixando cair os lugares que podem estar disponíveis.

É a altura de concorrer a líder do partido e, se não estiver a vagar o lugar de PM, é ideal para ganhar a liderança. Os mais preparados estão em cargos de responsabilidade.

Quando previr que o Governo de turno está com os dias contados não hesite em dizer que está pronto para o substituir mas certifique-se de que tem o exército de cúmplices disposto a bater-se por si.

É nestas alturas que se ganha o Governo e se começa a perder o País. Mas isso pouco interessa. O princípio de Peter exige confirmação.

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