José Vilhena – o humorista cáustico
José Vilhena, hoje a suportar as mazelas de 87 anos de vida, é um escritor, cartoonista, pintor e humorista português de primeiro plano, cuja popularidade o tornou desprezado por pretensiosos aristocratas que se acanham a reconhecer-lhe o talento multifacetado.
Iconoclasta, jacobino e democrata era uma figura incómoda à ditadura. O traço mordaz e a prosa verrinosa valiam-lhe a prisão e apreensão dos livros. É injusto esquecer quem tanto gozo proporcionou aos anticlericais e antissalazaristas no combate solitário que foi a sua imagem de marca.
Foi no Dicionário Cómico que vi a mais interessante definição de patriota, «pessoa que ama a sua pátria (não confundir com nacionalista, que ama também a pátria dos outros», definição que, no auge da ditadura e no apogeu da guerra colonial, teve o efeito demolidor de um panfleto.
Recordei-me deste homem que conheci cedo e li assiduamente ao ver os nacionalistas que ruminam sentenças em relação à Ucrânia, um país que tem enclaves russos de que os nacionalistas portugueses e ucranianos gostam particularmente. Não digo que devam fazer referendos ou separar-se, só não percebo que se aceite na Inglaterra, em relação à Escócia, o que não se aceita na Ucrânia, em relação à Crimeia.
A subtil distinção entre patriota e nacionalista assume uma precisão notável quando os portugueses deixam à solta o seu Governo e tomam as dores do ucraniano onde é raro ver democratas de qualquer dos lados e aparecem sempre como guerrilheiros da virtude.
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