Véu islâmico começa a dividir a Turquia

Por Carlos Esperança - setembro 20, 2007

O projecto do governo de Ancara de incluir na nova Constituição um texto que autorize o uso do véu islâmico nas universidades está a provocar um violento debate sobre a questão na Turquia.

Não sei o que é um crente moderado, se aquele que aceita umas crenças e nega outras ou o que pretende suavizar a violência da fé e o poder dos clérigos.

Sem a Reforma, o Iluminismo e a Revolução Francesa a Europa teria ainda monarquias absolutas. Talvez se queimassem ainda homossexuais, bruxas, judeus, apóstatas e hereges. Felizmente, a Europa secularizou-se e rendeu-se à democracia, apesar do azedume do Vaticano.

No Islão a Idade Média vive a apoteose do livro que o arcanjo Gabriel ditou a um pastor analfabeto enquanto os letrados tomavam notas dos ensinamentos. Para os crentes só a sua religião é verdadeira (não são únicos) e é sua obrigação matar quem se afaste.

Não sei se um islamita moderado é aquele que acha que o adultério feminino pode ser castigado com a cadeira eléctrica em vez do espectáculo público da lapidação; se é o que em vez de defender a amputação de um membro se contenta com alguns dedos; se aceita que seja reduzida a distância a que a mulher segue o homem; se consente a redução de uma oração diária e, para quem renegue a fé, permita que a decapitação seja substituída pela prisão perpétua.

Recep Tayyip Erdoğan começa por defender o uso do véu nas universidades e acabará por aceitar a burka. Por ora, quer convencer o mundo de que o crescente islâmico é a Lua minguante mas, quem leu o Corão, sabe que nunca chegará a Lua nova.

Depois da demente invasão do Iraque em que os piores líderes do Ocidente derrubaram a ditadura laica para abandonar o País a uma teocracia xiita, o Irão está na fase de não retorno do poder nuclear e as democracias sentem-se ameaçadas.

A deriva turca, cujo PREC (processo de re-islamização em curso) já começou, aperta o cerco a uma Europa que, em vez de apoiar as forças laicas da Turquia, facilita o assalto das religiões ao poder no seu próprio espaço.

Comentários

e-pá! disse…

Estou convicto de que existem islâmicos moderados, ao contrário do que o post diz na sua primeira linha.
Tenho, contudo, dificuldade em defeni-los, em caracterizá-los Parece aquele dito espanhol sobre as bruxas.
Mas, arriscando uma concepção simplista poderei dizer que um islâmico moderado é aquele que acredita na vida e não na morte.

Todavia, o que é notório, o que salta à vista, é o recrudescimento do radicalismo religioso. Mais uma vez aqui, estou convicto que, em termos numéricos, estes, são uma minoria. Uma minoria extremamente activa e dominadora. Têm uma influência completamente desproporcionada ao seu número.
Em várias regiões do globo apossaram-se do poder político e, desde logo, encetaram uma repressão muito alargada: politico-religiosa.
A Turquia que apesar de atravessar um período dificil, se se mantiver fiel à doutrina de Ataturk - onde se preconiza a separação de poderes (civil e religioso) - demonstrou que, apesar das incongruências intrinsecas do islamismo, podem, no "mundo muçulmano" existir e desenvolverem-se espaços de moderação.

O problema é que o radicalismo e o dogmatismo muçulmano, tem raízes estruturais, dificeis de combater.
A voz dos "moderados" é abafada, pouco audível ou silenciada.
Todavia, em minha opinião o Mundo deve construir e desenvolver redes de contactos, pontes de ligação, com esses moderados. E ajudá-los a ganhar influência e capacidade de manobra na sociedade, sem andar premanentemente a discutir ou a empolar o conflito de civilizações.

Difícil, não é?

quinta set. 20, 08:53:00 da tarde

Anónimo disse…

A Turquia é um país muito complicado, muito diferente da Europa onde nós vivemos.

Há quem pretenda ver os islâmicos turcos, na comunidade...vai ser bonito.

Quando começar a invasão dos ditos, temos de dar à sola, eu sou o 1º, fiquei farto de guerra.

quinta set. 20, 09:22:00 da tarde

Anónimo disse…

Como em todas as religiões, há islamitas (não confundir com islamistas) que têm entendimentos abertos, evoluídos e civilizados do islão (os ditos moderados, e islamitas que não vão além do puro e duro dogmatismo. E há ainda os islamistas, mais perigosos, que que defendem o cruzadismo islâmico.
Em termos de religiões isto não constitui qualquer novidade, pois é comum a quase todas, se não mesmo a todas. Entre os católicos também há os vulgarmente conhecidos por progressistas, os ultramontanos e os proselitistas.
É preciso igualmente ter em conta que a cultura europeia é herdeira do anticlericalismo jacobino, ou seja, o laicismo ocidental é sobretudo anti-religião (ao contrário da tolerância que afirma defender). E foi esta cultura laica e jacobina que influenciou a revolução dos «Jovens Turcos» em finais do século XIX, dando origem à Turquia moderna. Contudo, pelo (pouco) que tenho lido, os novos dirigentes turcos têm uma perspectiva laica que não é sinónima de anti-islão, mais tolerante, digamos mais neutral que a nossa cultura jacobina.
Vejamos como as coisas evoluirão no futuro.Será que o Estado português, por exemplo, é mesmo laico?
De qualquer forma, julgo que o pior que se poderia fazer seria fechar definitivamente as portas da UE à Turquia. Isso significaria paralisar todas as reformas de modernização em curso e reforçar a posição dos islamistas. Mantendo em aberto a possibilidade da adesão à UE significa manter a pressão no sentido da concretização daquelas reformas.
A chave do progresso está no diálogo das civilizações e não no choque das civilizações. No passado, a história do mundo foi uma história repleta de choques civilizacionais - basta ver o que foi a história da Europa até ao final da II guerra mundial. Mas a Europa aprendeu que esse não era o caminho. Temos que alargar o modelo europeu do pós-guerra a outros países, se queremos de facto uma nova história futura de PAZ autêntica.

sexta set. 21, 12:18:00 da manhã

Anónimo disse…

Caro Monteiro Valente:

Quem conhece e tem escrito tanto sobre geo-estratégica e conhece as várias correntes que percorrem o fascismo islâmico (recuso outra terminologia) surpreende-me que acredite na existência de um Islão sem proselitismo.

É politicamente correcto - sempre foi - apelar ao diálogo. Mas, sem Revolução Francesa ainda andaríamos submetidos ao poder eclesiástico.

Mesmo depois, na recente ditadura que ajudaste a derrubar, ainda era proibido o divórcio e as mulheres tinham de obter autorização do marido para se deslocarem ao estrangeiro. E a administração de bens próprios cabia aos maridos.

Não havia influência da Igreja católica nessa violência contra as mulheres?

Tenho o Corão como livro de consulta permanente.

sexta set. 21, 12:51:00 da manhã

Anónimo disse…

Meu caro Carlos Esperança

Tenho vindo a notar, com certa preocupação, que andas a virar radical, e a seguir um caminho que se aproxima cada vez mais daqueles que tanto criticas.
Confundir o Islão com o «fascismo islâmico» é ignorar o que foi na sua essência o fascismo (e tu não o ignoras), e ignorar a história do Islão - ao qual a cultura ocidental tanto deve (tu próprio o afirmaste em texto no Ponte Europa há uns tempos atrás, quando evocaste Avicena e Averroes).
Vou recordar-te algumas afirmações de «neocons» na linha «islamofóbica» de G. Bush, da qual me parece que, distraidamente, te andas a aproximar:
"O fundamentalismo muçulmano torna-se rapidamente a principal ameaça à paz global e à segurança" (New York Times); "Esta ameaça é semelhante à do nazismo e do fascismo nos anos 30, à dos comunistas nos anos 50" (Idem); "A Ameaça Vermelha desapareceu. Mas aqui está o Islão" (Idem). Desculpa. Não te quero ofender...mas começas a preocupar-me!
O Islão não é um «todo» nem uma doutrina estática, e, tal como outras religiões, conheceu ao longo da história diversas modificações. Cito, a propósito,a estudiosa italiana do Islão Biancamaria Scarcia: "Tal como no passado, quando foi utilizado para fins muito contraditórios, o Islão pode também hoje legitimar tanto uma política progressista como uma política reaccionária. Não existe hoje mais que ontem um Islão político, no sentido em que não há uma única ideologia, uma única visão islâmica das coisas".
Lembro-te, designadamente, o papel motor do Islão na resistência à violência colonial.
É radicalismo chamar de «fascistas islâmicos» a mais de 1,2 mil milhões de muçulmanos existentes no mundo. Como seria possível perceber que a generalidade dos países democráticos (Portugal inclusivé) mantivessem relações diplomáticas com tantos governos de «fascistas»? Como explicar que a NATO, a UE, Portugal tenham travado uma guerra nos Balcãs para instalar um governo muçulmano, «fascista islâmico», na Bósnia, que dentro de alguns anos entrará na UE?
Meu caro Esperança. Custa-me dizê-lo, mas, como sucedeu entre os muçulmanos, a Europa conheceu também impérios brilhantes e sinistras ditaduras, momentos de abertura e vagas de crispação, destacados intelectuais e períodos de decadência. Aliás, onde e quando existiram os autênticos fascismos? Não foi no seio do Islão nem em tempo assim tão remoto! Sim, porque os fascismos europeus não foram, na sua essência, uma questão de religião. Será bom não esquecer que o nazismo emergiu da democracia, e que, entre nós, a ditadura militar nasceu também com a ajuda de partidos republicanos. Como ensina António Sérgio,saibamos aprender com a História.
Se ando preocupado com o que sucede no mundo islâmico, não o ando menos com os caminhos sinuosos da democracia na Europa e em Portugal. Agora até já em França rufam os tambores da guerra...a mesma França que, há quatro anos, se opôs à invasão do Iraque!
Quanto ao segundo ponto, o da Revolução Francesa,sabes bem que tenho esse acontecimento histórico na conta dos mais relevantes na história europeia, com consequências que se projectaram em várias partes do mundo - o que não significa que concorde com tudo quanto nela se passou e que hoje tenha de continuar a ser esse o caminho. Aliás, não ignoro que antes dela já existiam democracias modernas em outros países - caso da Grã-Bretanha e dos EUA -, cujo percurso foi bem diferente.
A questão de fundo que eu pretendi colocar ( e por certo não me expliquei bem)é se será possível ser laico e religioso ao mesmo tempo - como o defendem os actuais dirigentes turcos. Eu acredito que sim! E será que seria legítimo reconhecer como democrático um governo turco saído, eventuamente, de um golpe de Estado apoiado pelas correntes laicas e militares turcas? Acredito que a hipocrisia «democrática» ocidental seria capaz de o legitimar, como legitimou o regime militar paquistanês ou, aqui bem perto de nós, o actual regime argelino, ambos saídos de golpes militares.
Será que estou a ficar reaccionário?

sexta set. 21, 04:19:00 da tarde

Anónimo disse…

Islamismo rima com democracia no,países muçulmanos. São honestos, competentes, patriotas e tëm o povo com eles. Quando há eleições livres, ganham-nas por larga margem.

Dom outro lado da barricada temos as ditaduras laicas, corruptas e fantoches dos EUA que capitulam face ao nazi-sionismo. A rua árabe é islamista, quer a democracia bem como escorraçar os terroristas cruzados e sionistas do Médio Oriente. ALLAH U AKBAR !

terça set. 25, 02:35:00 da tarde

google优化 disse…