Os pretextos de que os falcões precisam...

O Irão alertou ontem os EUA e seus aliados de que se arrependerão amargamente de um eventual ataque ao país. Falando durante um desfile militar em que foi exibido, pela primeira vez, um míssil com um alcance de 1800 km – capaz de atingir Israel e as bases norte-americanas no Golfo Pérsico – um líder militar iraniano afirmou: “A nossa mensagem aos inimigos é; Não façam isso, pois vão arrepender-se como se estão a arrepender no Iraque.”

... e que convencem os moderados.


Comentários

Anónimo disse…
Infelizmente, não me parece que haja alguem «arrependido» do sucedido com o Iraque.
Entre os que o fizeram, naturalmente.
A equipa USA e os mandaretes da UE, estão servidos por uns anos.
Quanto ao Irão e se vier a ficar armado, tanto melhor para o «complexo militar industrial» USA.
Vai ser excelente para os negócios.
e-pá! disse…
A situação político-militar no Médio Oriente complica-se todos os dias.
Os protagonistas do mais recente desaire a guerra do Iraque – salvo inevitáveis expurgos por indecente e má figura - continuam a passear a sua incompetência nos antros do poder e nos areópagos internacionais.
Todavia, no Médio Oriente, a questão mais profunda, aquela que mais condiciona as posições árabes, é o conflito israelo-palestino que permanece, há décadas, num impasse, melhor, num violento impasse.
Uma sensação de impotência, inferioridade e de humilhação varre os árabes após várias “guerras israelo-árabes” que terminaram em derrotas, sob a supremacia militar e tecnológica israelita, e o progressivo agravamento do(s) conflito(s).

Israel sustenta uma particular doutrina no que é apoiada pelos EUA: manter (perpetuar) essa superioridade (técnico-militar) em relação aos países vizinhos (árabes). Esta estratégia estará subjacente a um documento “Projecto para um Novo Século Americano” (1998) que, inopinadamente, não tem tido o devido relevo. Este documento foi subscrito por uma plêiade de conservadores americanos, entre eles: Dick Cheney, Paul Wolfowitz, John Bolton, Richard Perle, Richard Armitage y Zalmay Khalizad,… Na realidade homens que, por maus motivos, todos conhecemos. Este projecto encerra, uma cláusula obscura (não claramente explicita) que nos faz compreender muitas das atitudes da política de defesa e internacional norte-americana.
É esta: A América terá de permanecer como a única superpotência mundial. Para isso é necessário tornar-se um “polícia do mundo”, i. e., desenvolver uma poderosíssima máquina militar capaz de intervir em qualquer parte do Mundo. Capazes de evitar conflitos, como as políticas bélicas preventivas dos neoconservadores, que levaram à guerra do Iraque, demonstraram pela negativa. Mas a tarefa é muito mais complexa já que obriga a actuar em múltiplas frentes: evitar a criação de uma Força Europeia, conter a Rússia e controlar a China. Muita areia para aquele “american truck”.
A doutrina de defesa israelita é uma imitação regional deste projecto americano.
A evidência desta política induziu como resposta o rearmamento dos países árabes, nomeadamente, os vizinhos de Israel. Todo o Mundo conhece uma das máximas americanas: “toneladas de ferro, toneladas de razão” (William Cohen, ex-secretário da Defesa dos EUA).
Todo este arsenal estratégico e bélico está em marcha. O próximo degrau da escalada, nesta região, como um seguimento minimamente atento da política internacional facilmente põe a nu, é o Irão.
A lição do Iraque não foi aproveitada, nem se tiraram as devidas ilações sobre a eficiência da intervenção militar externa dos EUA.

O Mundo está a ser empurrado para outro conflito. Que só parece evitável se a Europa, a Rússia e a China, desfizerem o sonho de os EUA manterem o monopólio como única superpotencia mundial e intervirem no Médio Oriente, com o alto patrocínio da comunidade internacional (ONU) para o fim da escalada nuclear iraniana em troca de um equilíbrio real, verdadeiro e justo na região. A Europa tem-se desdobrado em iniciativas diplomáticas. Com poucos ou nenhuns resultados. Aliás era difícil obtê-los. Não é possível negociar com Teerão e, ao mesmo tempo, os EUA exibirem, imponentes passaetas de porta-aviões no estreito de Ormuz. A política de "to show the flag" já não colhe resultados, só acicata (os ânimos e os instintos bélicos).
O velho e cada vez mais rejeitado fantasma do rearmamento, a belicosidade das relações internacionais, o desprezo pela diplomacia, entrou de novo em cena. Esperemos que não perdure.

A tarefa do momento, urgente e inadiável que caberá à globalidade das Nações é substituir o hegemónico e alucinante “Projecto para um Novo Século Americano” por “UMA NOVA POLÍTICA INTERNACIONAL”.

Entretanto, o Irão está na calha. O recente ataque a instalações militares (nucleares?) sírias não nos deixa dúvidas.

Os "falcões" já não são necessários. É só deixar correr.
É nada fazer para contrariar esta macabra marcha para o abismo.
Anónimo disse…
De facto assim parece ser e a guerra é basolutamente inevitável. Mais dia menos dia vai acontecer, facto aliás já "descontado" pelas chancelarias mais representativas do mundo actual que já absorveram o facto. é só uma questão de dar voz às armas quando as condições forem propícias.
Aliás isso reflecte-se claramente no actual preço do petróleo.
Agora a questão que se põe é se há alternativa à guerra. E parece não haver.
Aquela gente tem dinheiro (do petróleo) armas e motivações (religiosas e históricas) e o resto é uma questão de tempo...
Infelizmente quem conhece a história daquela região sabe que naquele local do mundo, onde parece ter nascido a civilização ocidental, berço dos mais antigos impérios que o homem construiu, nada evoluiu nos últimos cinco mil anos. O resto é história...
Camarelli disse…
Discordo totalmente que convençam os moderados. Eu abomino o militarismo, mas estou convencido que estas declarações são em resposta às contínuas ameaças que alguns países ocidentais insistem em lançar ao Irão. Se fosse ao contrário, ninguém estranhava. É de enorme arrogância ser complacente com quem admite bombardear instalações nucleares no Irão e ficar indignado com a esperada resposta bélica do agredido.

Quem se considera moderado deverá agir em coerência com aquilo que julga defender, da oposição à invasão do Iraque até ao conflito armado com o Irão.
e-pá! disse…
Matarbustos:

Os moderados não podem ser convencidos. Ou são ou não são!
Mas aqueles mulçulmanos que, continuando a sê-lo, vivem enormes dificuldades por defenderem a separação da religião do Estado, por defenderem uma nação árabe próspera e pacífica, por denunciarem os crimes das teocracias dominantes, não devem ser abandonados às feras.

Até porque, segundo julgo, estes homens e mulheres sofrem com as enormes contradições que, a cada momento, se geram entre as suas convicções religiosas e os códigos de vida que vivem e onde vivem.

Contudo, é cada vez mais difícil ouvi-los, saber onde estão, como actuam.
Dou um exemplo:
Em Karachi (Paquistão), no dia 15 de Abril passado, realizaram poderosas manifestações contra os planos de uma majestosa mesquita em Islamabad (Lal Masjid) que pretendia restabelecer a Sharia. Alguém conhece o "Movimento Mutahida Qaumi" promotor desta manifestação?
Gritavam, em plena rua: "não aos extremismos!".

Não tiveram o apoio do Mundo, dito, civilizado.
Camarelli disse…
Certíssimo, é muito difícil ouvir essas vozes, mas eles existem, sofrem sob a teocracia, e sofrem depois com a guerra. Em nenhum momento são ouvidos. Exemplo óbvio: a situação das mulheres no Afeganistão. As burkas lá estão, apenas escondem mais viúvas e orfãs do que antes.

Olhemos para o Iraque: as vítimas têm credo? são monárquicos? republicanos? Não interessa, são apenas «eles».

Basta ter consciência da barbárie para não tolerar a guerra. Quem desacreditou a diplomacia? Porquê esta obsessão pelo discurso marcial? Ainda por cima na Europa!

Anda é meio mundo doente com a emergência de novas potências económicas, isso é que não dá para disfarçar. O pretexto é esse: querem mercados livres mas lidam mal com a concorrência; não podendo competir nesse plano, ameaçam com a guerra. Mau perder, mau perder...

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