A tragédia das verdades únicas

Trinta e um anos de ditadura, quatro anos e 4 dias de tropa, com 26 meses de desterro em Moçambique, na guerra colonial, moldaram o homem que sou e a compreensão de que me sinto capaz, contra as aparências.

Não me surpreendem os homens e as mulheres que pensam o contrário do que eu penso, mas não aceito o pensamento que nega a expressão ao entendimento oposto e combato o que oponha ao direito de quem discorda de mim.

Não há verdades absolutas e, por isso, só o maniqueísmo pode defender a verdade única de uma religião, de um partido político ou de uma corrente filosófica. Na Matemática e na Física as verdades são elaboradas a partir dos factos e postas em dúvida por método. Na ciência tudo é verdade até prova em contrário. Na fé, a verdade é eterna e imutável ainda que todos os factos a desmintam. Por isso, os cientistas andam sempre carregados de dúvidas enquanto os crentes vivem cheios de certezas.

Não há regime político, partido, credo ou tradição que mereça respeito se não aceitar o contraditório.  O esclavagismo, a antropofagia e a misoginia foram tradições que ainda não estão completamente erradicadas. Ai de nós, se nos deixarmos convencer pelo peso da tradição ou vencer pela violência do dogma.

Uma sociedade discriminatória é uma sociedade doente. Por isso, valem mais os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos do que todos os versículos de todos os livros sagrados, quaisquer tradições, por mais consolidadas que estejam, ou qualquer utopia totalitária por mais risonha que pareça.

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