Um resgate travestido de hipocrisia e eufemismos…

FMI recomenda mais reformas nas pensões e salários da Função Pública link

Esta nova terminologia em que cortes salariais e das reformas são apresentadas como pomposas ‘reformas’ começa a enojar.
Todavia, existe ainda uma outra vertente de mistificação. Para o FMI o ajustamento de Portugal faz-se através da recessão. Mais uma vez a ‘lengalenga’ podia ser mais explícita e directa. Em vez de recessão tout cout, como se de um imprevisto se tratasse, poderia ter dito 'um brutal empobrecimento’ com um infindável cortejo de desempregados e anunciar para o futuro um admirável 'reino do miserabilismo'. Falta defender a cínica e espúria teoria de que: ‘o dinheiro só traz problemas’, ou a do caridoso estatuto de ‘pobrezinho, limpinho e honradinho’…

Finalmente, as preocupações do FMI - por sinal coincidentes com a agenda do Presidente da República que está dominada pelo ‘período pós-troika’ - abordam uma questão candente. A procura de um destino para os ‘ganhos conseguidos na frente externa' e se os mesmos 'serão mantidos quando a economia portuguesa recuperar’. Atitude denunciadora da orientação ideológica que rege o actual processo de ‘ajustamento’. No entender do FMI ‘os ganhos obtidos quando a economia recuperar’ (seria mais prudente dizer ‘se algum dia recuperar’) deverão ter um destino (previamente) traçado. Faltou revelá-lo, mas – pressupõe-se que no entender dessa instituição - os 'ganhos' deverão ser resguardados de qualquer tentação redistributiva e à priori rápida e liminarmente absorvidos pelos ‘mercados’.

O senhor Abebe Selassie sabe – mas não revela - quem devem ser os destinatários de uma cada vez mais longínqua e duvidosa recuperação económica, i. e., quais os ‘virtuosos’ guardiães de eventuais mais-valias económicas. Sabe também que se revelar esse pormenor estraga tudo porque os portugueses compreenderão para que servem os actuais sacrifícios impostos. Não deve tardar a aparecer mais uma ‘regra de ouro’ com valor ‘constitucional’ para acautelar o futuro (dos mercados). O que a suceder não passa de uma macabra ironia num País onde o Governo aparece à luz do dia como um relapso violador de normas constitucionais.

O que está em causa é a nossa soberania parcialmente hipotecada ao Plano de Auxílio Financeiro. Uma vez terminado esse período era suposto recuperarmos a plena independência. Mas pelos vistos – no entender do FMI - a hipoteca não tem resgate. Se aceitarmos esta abusiva perversão deste Plano vamos continuar na Europa com uma nova postura: de joelhos.
Basta!

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