As eleições presidenciais no Irão

As eleições iranianas – aparentemente - deram a vitória a um islamita ‘moderadolink.
Todavia, convém recordar que o exercício do poder continua a ser repartido entre os clérigos xiitas e é difícil destrinçar as quezílias e as linhas de fractura entre as diversas facções religiosas dos ‘descendentes’ de Ali.

Hassan Rowhani, o vencedor, substitui Ahmadinejad que exerceu dois mandatos presidenciais em estreita ligação com os ultraconservadores e acabou por conduzir o País a uma grave crise económica, com inevitáveis repercussões sociais. Aliás, o último mandato decorre manchado por fumos de ilegitimidade decorrentes da contestação dos resultados eleitorais de 2009 que afastaram da área do poder os ditos ‘reformistas’.

A vitória de Rowhani deve ser entendida como a expressão da profunda fadiga que, maioritariamente, atinge os grandes sectores sociais iranianos e gravita em redor da obsoleta teocracia ultraconservadora que empurrou o regime de Teerão para uma posição difícil e isolacionista no concerto das nações – com inevitáveis consequências económicas - e tem comprometido o desempenho de um papel de liderança na Região. Qualquer ‘cheiro’ de reforma, qualquer promessa de ‘mudança’, tem potencialidades para captar a preferência dos eleitores.

Mas estas eleições valem o que valem. De facto, a essência teocrática do regime é a base de todos os problemas e essa continua imutável. Por detrás da cortina, e sempre que necessário às escancaras, continua a pontificar o aiatola Khamenei que não se submete a veredictos populares, nem contemporiza com quaisquer tipos de reformas que coloquem a ditadura clerical em causa.

Hassan Rowhani, é um vencedor ‘oportuno’. Está dentro e a par de um dos principais problemas que afectam o Irão: a aventura nuclear. Durante muitos anos pertenceu ao Conselho de Segurança Nacional que tem lidado com esta questão.Mas o aspecto mais intrigante deste acto eleitoral é constatar que o problemático exercício de Ahmadinejad que - não sendo um membro da hierarquia clerical - teve ocasião de algumas vezes entrar em discordância com o círculo próximo de Khamenei, e acabou (sempre) com a desautorização do Presidente. Um dado a ter em conta para os 'reformistas'.
Finalmente o outro enigma que esta eleição desfaz é que estando, a partir de agora, todos os lugares de chefia das instituições políticas iranianas ocupados por clérigos xiitas se, de facto, restará (na prática) algum espaço para atitudes reformistas.
Ou mantém-se acesa a convicção de que qualquer veleidade ‘reformista’ morrerá em Qom (centro teológico xiita), onde o líder supremo e a sua corte de aiatolas têm a última palavra sobre tudo e todos?…

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