Breves notas sobre uma [filha da] ‘putice’…

A chanceler Merkel ‘deixou’ escapar, em conversa coloquial com Christine Lagarde (com o microfone ligado), esta esclarecedora imprecação: “conseguiré que España reduzca el sueldo mínimo a 250€ al mes - tras este comentario, dibujó una ‘z’ en el aire con la cabeza, chasqueó los dedos y añadió - because she's is my bitch!». link.
(o sublinhado é nosso)

Falemos então de ‘putaria’. Ou, na expressão mais vernácula, sobre o ‘putedo’. Existem 'alimárias' que conseguem transformar qualquer ambiente num lupanar. Incluindo espaços como a velha e civilizada Europa. São uma espécie de novos Midas, possuidores de estranhos dotes transformistas.

Voltemos ao 'putedo'. Em todas as ‘casas de putas’ sempre existiram patroas encarregues de zelar pelo bom andamento do ‘negócio’. Eram as conhecidas ‘madames’. São estes coios espaços previlegiados onde a 'chulice' sempre pontificou. E o desafio era a‘esperteza’ de pagar pouco para ‘afogar o ganso’, utilizando em simultâneo vários 'pratos'... 

Mas a insuportável 'boutade' de Merkel faz relembrar 'historietas alfacinhas'.  Durante o final do séc. XIX foi snob nos meios aristocráticos decadentes e na burguesia 'emergente', naquela Lisboa de outras eras, sustentar (proteger) uma ‘puta espanhola’. De tal maneira que, nessa altura, ‘ir ás espanholas’ foi sinónimo do calão: ‘ir às putas’.

Cabe aqui recordar a prosa de queirosiana (nos Maias) que põe na boca de Carlos a seguinte tirada (por sinal referente a Coimbra): “Encarnación [*] fanatizou Coimbra como a aparição de uma Dama das Camélias, uma flor de luxo das civilizações superiores. Pela Calçada, pela estrada da Beira, os rapazes paravam, pálidos de emoção, quando ela passava, reclinada na vitória, mostrando o sapato de cetim, um pouco da meia de seda, lânguida e desdenhosa, com um cãozinho branco no regaço”…

Hoje, a rábula da ‘puta espanhola’ morreu na vida lisboeta mas parece ter entrado nos esquemas de Angela. Não! A 'puta espanhola' não é um luxo das ‘civilizações superiores’ ou um ferrete daqueles que 'vivem acima das suas possibilidades'. É o ‘ajustamento boche’, i. e., a chulice na sua expressão mais reles: pagar pouco (250 euros/mês!) e ‘ajoelhar’/ 'deitar' (por terra)  tudo o que é aviltantemente considerado como serviçal, desprezível e descartável (os povos perdulários do Sul !) e assim satisfazer lânguidos, secretos e insaciáveis apetites (dos ditos 'mercados').

A insuportável boçalidade do paleio trocado entre dois (duas) dos ‘nossos maiores credores’ deve colocar-nos em guarda. De atalaia. A fasquia é, como se depreende, elevada. Não vamos pagar só com o corpo, vai-nos ser exigido 'couro e cabelo'.
Há alguém por essa Europa a querer ‘servir-se’ (de nós). Esse 'serviço' passa pela prostituição de nações. Mas tal só será possível enquanto estivermos entregues a diletantes ‘azeiteiros[**], travestidos de governantes...

[*] – Nada tem a ver com um político que recentemente administrou Coimbra…

[**] – Na gíria popular: alcoviteiro.

Comentários

Grandessíssima "zorra"!
Em tempos mais recuados, isto seria motivo para uma guerra. Agora - felizmente - já não. Mas, antes de a Europa ter voltado a tornar-se uma selva, seria motivo para imediata demissão da malcriada, sob pena, no mínimo, de corte de relações diplomáticas.

Mas certamente que Sua Majestade El-Rey de Espanha não vai deixar passar em claro a afronta. :-)
Andam cabras pelas chancelarias...
Caro E-Pá:

Jueves é uma revista satírica :)
e-pá! disse…
CE:

Pois é!.

Quando a sátira colide com aquilo que passou a ser expectável e explora recônditos aspectos 'pulhice humana' (para usar um conceito do satírico Vilhena) é capaz de induzir reacções de revolta imediatistas e emocionais.
De qualquer modo devo confessar que ao ler a notícia que motivou o meu comentário não me apercebi que a mesma poderia ser uma sátira incidindo sobre uma personagem política europeia que, sublinhe-se, muito tem feito se encaixar na 'boutade' que lhe é atribuída.
'El Jueves' mais do que satirizar Merkel parodiou com a situação de perda de soberania que varre Espanha e outros países do Sul da Europa onde esse défice está mesclado com situações de submissão enfim de 'prostituição' de princípios democráticos universais.

Mas vamos ao que importa. Ao ler a notícia ontem 'embarquei' nela com armas e bagagens porque na realidade já há muito tempo que estou no 'cais' (pronto para embarcar) e porque - não deve ser escamoteada esta situação - desconhecia em absoluto as características da publicação citada.
Por estes factos penitencio-me perante os leitores do 'Ponte Europa'.

Nota: Aquela imagem (ainda reportando-me ao artigo de El Jueves) acerca da venda de uma cadeira de rodas numa feira como uma velharia é muito imaginativa e evoca algo presente no subconsciente colectivo português (refiro-me aos dramas que povoam 'Feira da Ladra').
E_Pá:

Eu também embarquei :)

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