25 de Abril: o ‘nosso’ problema …


A presidente da AR, Assunção Esteves, sobre a recusa dos capitães de Abril em fazerem-se representar nas cerimónias comemorativas do 25 de Abril, nesse órgão de soberania, por ter lhes sido negada possibilidade de usar da palavra, declarou acintosamente: “o problema é deleslink.
Este é um sinal explícito da tentativa de ‘absorção’ do 25 de Abril, enquanto marco de mudança do regime e de futuro. As forças de Direita que chegaram ao poder têm a agenda secreta de impor um novo ciclo político. Para muitos este facto já se revelou há muito. Uma das frases lapidares é que ‘ninguém é dono do 25 de Abril’. Como se as questões de propriedade não fossem fulcrais para a Direita.

Por outro lado, declarações de apoio e homenagem ao MFA (parece que não, mas existiu!) abundam, mas a hipocrisia (política e institucional) é, também, imensa. Seria didáctico (re)ler a entrevista de Sá Carneiro ao JN em Maio 1974 link.
Sejamos claros: a Direita ainda não verbera - publicamente - o 25 de Abril porque entende que essa ‘verdade’ não é lucrativa (nomeadamente em termos eleitorais). Mas está a fazer o seu caminho e quando tardiamente os portugueses se precaverem contra essa iniludível realidade, estarão face a um ‘novo regime’, por ora um secreto desígnio.

O silenciamento dos libertadores só tem uma interpretação: serve aos novos opressores. Claro que a opressão para aonde estamos a ser conduzidos não é o regresso puro e simples ao regime derrubado em 25 de Abril de 1974. Os tempos são outros. Mas o recuo existe, sente-se dolorosamente em termos de desenvolvimento e no proliferar da fome e da miséria, mantendo as mesmas consequências políticas, económicas e sociais.

A situação que se está a gerar à volta das comemorações do 25 de Abril tem paralelismos históricos. Um deles será com o simbólico caso do 17 de Abril de 1969 quando o presidente da AAC exigiu usar da palavra – em nome dos estudantes - na inauguração do Edifício das Matemáticas link. Hoje, o protagonista de então dirige a bancada parlamentar do PS. 
Nada mais coerente do que solicitar à Associação 25 de Abril o envio da mensagem que pretendia transmitir aos portugueses e às portuguesas, volvidos que são 40 anos. E, no meio do cerimonial que está a ser erguido sob a batuta da maioria de Direita e com o alto patrocínio do PR, toda a Esquerda parlamentar (e não só o PS), deveriam assumir o compromisso histórico de dar expressão pública a essa memória no plenário desse lugar que se assume como sendo a casa da Democracia. 
Trata-se de uma dívida de gratidão baseada numa certeza concreta. Será muito difícil honrar dívidas, quer sejam públicas ou privadas, como pretende este Governo, quando não existe o mínimo conceito ou gesto de gratidão.
Esta enorme insensibilidade política a cavalo de uma gritante ingratidão que a actual maioria exibe é o ‘nosso’ (grande) problema...

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Gostaria de ter sido eu a escrever este post.

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