Como nasceu o blogue Ponte Europa

A intenção do pio edil de Coimbra, Carlos Encarnação, de crismar a ponte Europa com o nome de Rainha Santa Isabel, surgida em março de 2004, causou estupefação generalizada.

A Europa está condenada ao rapto. Zeus, transformado em touro, levou-a para Creta e fez-lhe três filhos, mas amava-a. Encarnação detestava-a e afadigou-se a apagar-lhe o nome. Assim, em vez de Europa, filha de Argenor, rei da Fenícia e irmã de Cadmo, ficámos com a filha do rei de Aragão, esposa de D. Dinis, a dar nome à ponte.

Esperava-se que a rainha repetisse o milagre que obrara outrora com os operários do convento de Santa Clara. Com o desemprego que ora grassa, seriam precisas muitas moedas de ouro para levar algum conforto aos desempregados que todos os dias aumentam em Coimbra.

A ideia de crismar a ponte com o nome de «Rainha Santa Isabel» não valorizou a cidade que aspira à modernidade, foi um tributo ao beatério que exultou na paróquia, digna de um mordomo das festas da Rainha.

Sabemos que a devoção autóctone é exacerbada, como o prova a estátua que se apossou do Largo dos Arcos do Jardim, mas o exagero tem limites.

Quem mora numa Praceta com nome de santo, na freguesia de Santo António dos Olivais, em cuja fachada da Junta de Freguesia está um painel com Santo António, e já dispunha da ponte de Santa Clara para atravessar o Mondego, não se refaz da onda de santidade que transformou a cidade universitária numa paróquia rural.

Fazia falta um projeto para a cidade, não um novo nome para a ponte. O Ponte Europa foi a homenagem republicana, laica e democrática de quem sentiu vergonha de quem mergulhou na pia da água benta para trocar o nome à ponte e singrar na política.

Comentários

E ainda há agora essa Meca do cristianismo que é o Carmelo onde viveu enclausurada a "irmã" Lúcia, como pena vitalícia de ter consumido cogumelos alucinogénios quando a fome a obrigou a isso.
e-pá! disse…
'Se não nos pusermos a pau' (até parece uma expressão bíblica) chegará o dia em que - sob os auspícios da pia Direita - os Hospitais da Universidade (actuais CHUC) serão 're-baptizados' de Hospital de S. Jerónimo (ao que parece o seu cristiânico padroeiro ) e, a partir daí, deverá dedicar-se a obras (opus) caritativas e assistencialistas, à boa maneira 'misericordiosa' de acordo com o caminho que já está actualmente a ser feito...
e-pá:

Para lá caminhamos. A saúde do corpo piora mas a da alma tira passaporte para o Paraíso.

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