Onde é que estava no 25 de Abril?

O DN, ao iniciar cada entrevista, faz a pergunta de Batista-Bastos a 40 personalidades que vai ouvindo nos 40 dias que precedem a data mais importante da nossa vida coletiva e da história política de quase nove séculos de País.

Têm passado, pelas páginas do DN, ilustres democratas, fascistas declarados e ignaros reconhecidos. Ontem coube a Paulo Portas, menino de 11 anos, que nesse tempo aprendia as manhas dos jesuítas num colégio da Companhia de Jesus.

A resposta à pergunta, «Qual é a figura que na sua opinião marcou o 25 de Abril»?, é a que melhor define o perfil do entrevistado e o desejo de falsificar a História. Paulo Portas, à semelhança de Nogueira Pinto, aponta Spínola, a quem chama marechal, como se o título honorífico não fosse posterior aos atos de traição e à tentativa de pacificar as Forças Armadas.

Acontece que Spínola presidiu à Junta de Salvação Nacional, ultrapassando o seu chefe, Costa Gomes, votado esmagadoramente pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), porque Marcelo Caetano julgava que era ele o chefe do golpe de Estado e pediu que o chamassem para lhe entregar o poder.

Spínola caiu no 25 de Abril como Pilatos no Credo, mas podia ter sido um homem com um passado democrático, não ter sido o germanófilo militante que esteve na frente russa como observador das movimentações da Wehrmacht, no início do cerco a Leninegrado, onde já se encontravam voluntários portugueses incorporados na sinistra Divisão Azul.

Em 1961, o tenente-coronel de cavalaria, ofereceu-se a Salazar, por carta, para ir, como voluntário, comandar um batalhão para a guerra colonial de Angola. Toda a vida foi um fascista e não deixou de o ser quando, depois de ter perdido a guerra na Guiné, escreveu o livro, «Portugal e o Futuro», que, dada a consciência generalizada da guerra perdida, foi recebido como uma hipótese possível, apesar das propostas ultrapassadas e utópicas.

Foi o MFA, e não Spínola, que exigiu a realização de eleições a a descolonização. O general do monóculo era um autocrata que, tal como Salazar e Caetano, desconfiava da democracia. Fez reuniões secretas com os americanos para negociar as colónias,  ao arrepio dos movimentos de libertação, e foi contra a sua vontade que os presos políticos foram imediatamente libertados das masmorras da pide.

Spínola, afastado do poder, incapaz de liderar a revolução, tornou-se o chefe do bando terrorista MDLP e, numa cilada em que só um imbecil caía, encomendou armas a um jornalista para armar facínoras que interrompessem o processo democrático em curso.

Mas seria em 11 de março de 1975 que o general cometeria um ato de traição à Pátria que o levaria ao exílio.

É este general de opereta que impressionou Paulo Portas. Para o irrevogável aldrabão, capaz de todos os golpes, foi um general golpista que tinha pela democracia o amor de Maomé ao toucinho, a figura que marcou o 25 de Abril.

Com Paulo Portas e Spínola, a democracia não teria chegado.

Apostila - Nota: À noite o legionário de Famalicão, Alberto Paixão, roubou as flores do monumento aos mortos da Grande Guerra. Não podia ficar o rasto da passagem de HD. Parece que apanhou um valente susto com desconhecidos que, à distância, vigiavam o ramo de flores, segundo ele próprio confessou. (Testemunho de Jaime Couto Ferreira).

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