O 25 de Abril valeu a pena?

A pergunta, repetida na comunicação social, sugerida nos cafés e ouvida nas ruas, anda aí, como provocação fascista, espécie de transferência de responsabilidade, oriunda dos herdeiros da ditadura para os que sabem o que lhe devemos.

Perguntar a quem ama a liberdade se esta vale a pena é a ofensa de quem lhe é alheio, de quem se dava bem com a ditadura ou não faz a mais leve ideia do que foi. É como perguntar a um doente se valeu a pena a cura ou, a um cego, a recuperação da visão.

A corja que domina a desinformação esforça-se por minimizar a violência da ditadura, o número dos que morreram e ficaram estropiados na guerra colonial, e só os de um lado, que  do outro não lhes interessa. A canalha que reprimiu durante 40 anos a simpatia pelo regime que prendia sem culpa formada, violava a correspondência, torturava adversários e os assassinava, essa súcia, filha do salazarismo, anda por aí, a reescrever a História e a responsabilizar quem teve a nobreza de perdoar aos algozes e cúmplices.

Como foi possível esquecer o Tarrafal, o Campo de S. Nicolau, Caxias, Peniche, Aljube e a Rua António Maria Cardoso? Será possível que, à medida que vão morrendo os que resistiram à ditadura, os herdeiros do ditador passem a esponja sobre o passado negro e o pintem de cor-de-rosa?

E os que têm obrigação de os desmascarar mantêm-se calados? Não há gravações dos gritos de dor e das lágrimas, quem recorde as mães de filhos mortos, as mulheres dos maridos presos e as famílias destroçadas pelas perseguições?

Os próprios capitães de Abril, que tudo deram sem nada pedirem, já são vilipendiados pelos que lhes devem os lugares que ocupam, as sinecuras que distribuem e os negócios sujos de que ficam impunes.

No regresso manso de um fascismo larvar é altura de dizer basta, de varrer os ingratos que ocupam o poder, de limpar os órgãos da soberania dos ineptos e dos que exercem a vingança dos que nunca quiseram a democracia, a descolonização e o desenvolvimento.

Dos que sentem náuseas e têm enxaquecas quando ouvem: MFA! MFA!

Comentários

septuagenário disse…
Quando os militares fecharam o parêntese () que outros militares tinham aberto, interrompendo e recomeçando a república portuguesa,
precisávamos principalmente de duas coisas:
Uma e a principal era "juizinho".
A outra, opcional, "sarna para nos coçarmos.

A segunda já está resolvida.

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