Há muito ressentimento escondido
Rastejam aí, no rodapé das notícias, a destilar ódio aos
militares de Abril, a defender a guerra colonial, a combater a URSS, como se
ainda existisse, a remoer a raiva de quem não digeriu a Revolução e teme uma
pneumonia à menor aragem da liberdade.
Andam aí os filhos dos bufos, rebufos e salazaristas, os
descendentes do respeitinho é muito bonito, os répteis do Estado Novo,
indiferentes às prisões, torturas, perseguições e medos. São os desmemoriados
dos que a pide assassinou, os ressentidos da liberdade que os capitães de Abril
outorgaram, os invejosos dos filhos dos pobres que chegaram à universidade e
que preferiam andar de rastos, num país orgulhosamente só, do que viver de pé, em
democracia.
Há novos representantes da velha geração de cúmplices da
ditadura, dos que iam em autocarros oferecidos, aplaudir o ditador e dar vivas à ditadura. Eram velhos
fascistas embrutecidos no livro único ou orgulhosos do analfabetismo, tão
minguados de ideias como os que agora insultam a liberdade com erros de
ortografia, a derrapar na sintaxe.
Uns não sabem o que isto era e outros julgam que era como lhes
disseram, e trazem no sangue o ressentimento dos delatores, a raiva dos lacaios
e o espírito vingativo de quem não se conforma com a liberdade.
Há toda uma pedagogia por fazer, um grito de raiva que se
faça ouvir contra os ineptos que tomaram o poder, uma Grândola por cantar e os
versos de Ary por dizer.
Há um grito de júbilo por Abril a soltar, vivas à liberdade
a bradar, um ruído patriótico que acalme os nostálgicos da ditadura e assuste
as ânsias de regresso ao passado.
Viva Abril!
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