A fé e a IVG
O piedoso cónego Tarcísio Alves pegou no Código de Direito Canónico - o Código Penal das almas católicas -, percorreu o menu dos pecados capitais e arremessou aos paroquianos o Cânone 1331: os que votarem Sim, no próximo referendo, «não podem casar, baptizar-se e nem poderão ter um funeral religioso».
Lá está, na mancha impressa, a pena imputada a quem votar «Sim» no referendo da República.
Aliás, o direito de voto e a própria democracia já foram considerados pecados mortais por infalíveis Papas que acharam a liberdade uma abominação e excomungaram os livres-pensadores.
Eis, pois, a pena a que automaticamente se expõem os pios eleitores de Castelo de Vide se não seguirem no voto o reverendo cónego.
Hoje deprecia-se a pena porque deixou de ser acompanhada do churrasco do corpo, esse invólucro imundo que compromete o destino da alma. Os réprobos que desobedecerem já não padecem as torturas a que os antepassados se expunham para purificar a alma. Nem a GNR lhes dá uns safanões no Posto. Nem existe PIDE para os arrecadar na enxovia.
O método expedito de amaldiçoar os créus que votarem «Sim» no dia 11 de Fevereiro, corre o risco de transformar Portugal no país com maior densidade de excomungados.
Por sua vez, João César das Neves, um frasco de água benta revestido a pão ázimo, diz que o aborto vai ser «tão normal como o telemóvel», numa previsão de que ambos os sexos possam praticá-lo.
Finalmente, haverá entre os sexos a igualdade que tanto abespinha o espírito misógino dos beatos.
Lá está, na mancha impressa, a pena imputada a quem votar «Sim» no referendo da República.
Aliás, o direito de voto e a própria democracia já foram considerados pecados mortais por infalíveis Papas que acharam a liberdade uma abominação e excomungaram os livres-pensadores.
Eis, pois, a pena a que automaticamente se expõem os pios eleitores de Castelo de Vide se não seguirem no voto o reverendo cónego.
Hoje deprecia-se a pena porque deixou de ser acompanhada do churrasco do corpo, esse invólucro imundo que compromete o destino da alma. Os réprobos que desobedecerem já não padecem as torturas a que os antepassados se expunham para purificar a alma. Nem a GNR lhes dá uns safanões no Posto. Nem existe PIDE para os arrecadar na enxovia.
O método expedito de amaldiçoar os créus que votarem «Sim» no dia 11 de Fevereiro, corre o risco de transformar Portugal no país com maior densidade de excomungados.
Por sua vez, João César das Neves, um frasco de água benta revestido a pão ázimo, diz que o aborto vai ser «tão normal como o telemóvel», numa previsão de que ambos os sexos possam praticá-lo.
Finalmente, haverá entre os sexos a igualdade que tanto abespinha o espírito misógino dos beatos.
Comentários
1. uma impressionante quantidade de "uniões de facto";
2. uma inusitada poupança da água baptismal;
3. uma inesperada crise nas agências funerárias.
Julgo que são efeitos colaterias imprevisíveis e indesejados. Nem o cónego pensou nisso.
Estou convicto que os movimentos pelo SIM, conceptual e eticamente contra o "aborto" clandestino, ao pretenderem a despenalização da IGV nas 1ªs 10 semanas da gravidez, nunca pretenderam uma tão vasta perturbação social e religiosa.
No aspecto religioso, o cónego de Castelo de Vide, exulta e não faz a coisa por menos do que a "excomunhão". Portanto, prevê-se a exclusão de milhões (projecção optimista pelo SIM ...) de portugueses das filheiras do apostolado católico. Se a votação pelo SIM for expressiva, lá perderemos o "estatuto" de nação tradicionalmente (ou maioritariamente) católica, tão do agrado da Direita, melhor, permanente "bandeira" da Direita contra a laicidade do Estado.
Que me perdoem os crentes, mas julgo que, no seguimento das ameaças do reverendíssimo cónego Tarcísio, Portugal ficará melhor, isto é, mais limpo das ancestrais chantagens e infinitamente menos hipócrita. Mais sábio, mais honesto, mais secular.
Por vezes, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.
Eu não estou tão optimista quanto ao resultado do referendo, mas, dado o empenhamento da ICAR, é legítimo contar o número de católicos pelos votos «Não».
Já quanto à IVG, apetece-me dizer: Antes aborto hoje do que cónego Tarcísio toda a vida.
Eu não estou assim tão optimista!
Quero ficar optimista.
Pessoas como o cónego Tarcísio, empurram-me ... dão-me alento!
Julgo que no seu anacronismo e na sua imoralidade são catalizadores pelo "SIM".
Alguns jovens, distribuem á entrada prospectos de cor azul.
Recebido um, trata-se de uma info da JS sobre o referendo/Sim.
Porque não pegar em duas dezenas e deixá-las nas caixas de correio do meu prédio?
Apesar da minha falta de crença, lá estão.
BM
Eis como se pode classificar esta cruzada patológica e verborreica pejada de argumentação patética e desonesta, levada a efeito por uma parte significativa dos defensores do "não", que nunca emprenhou (!) ou se o fez a alguém, foi, na maior parte dos casos, por de baixo dos panos.
jrd
Fale por si Carlos Esperança.
Já viu o que escreveu Carlos Esperança?
Então assume que prefere ser considerado um ABORTO do que um CÓNEGO TARCÍSIO para toda a vida?!
Isto de ser muito pró-activo tem as suas armadilhas...