A Europa, a história e a liberdade
Seria estultícia negar a influência das religiões e guerras pias que dilaceraram a Europa e que, tal como a cultura helénica e o direito romano, a moldaram. Seria, no entanto, perigoso esquecer que foi a anemia da religião que tornou possível a liberdade, que foi a perda do poder temporal da Igreja católica e da sua influência política que tornaram possível o espaço de liberdade em que, pesem embora as desigualdades e injustiças sociais que ainda persistem, se transformou a Europa.
A violência sagrada foi sempre filha da fé e dos interesses que à sua volta gravitam. Da Irlanda do Norte ao Chipre e à ex-Jugoslávia quantas mortes se devem aos desvarios da fé e à competição pelo negócio das almas?
Persistir nas referências religiosas da Europa e na sua consagração constitucional não é apenas redundante, é uma provocação às religiões excluídas, um braço de ferro com a laicidade e um desafio à secularização que permitiu a exclusão religiosa dos motivos de confronto no espaço civilizacional europeu.
Há uma conquista civilizacional de que todos beneficiamos, crentes, ateus e agnósticos, o carácter laico do Estado e a lógica separação das Igrejas. O proselitismo incorrigível dos crentes é um perigo que espreita das madraças de cada seita, dos púlpitos de todas as religiões.
Quem nos defende da obsessão que alguns sentem de salvar todos os outros? Por que motivo não se contentam com a salvação própria deixando em paz os que se desinteressam, apesar das prometidas delícias do Paraíso ou das ameaças com as perpétuas penas do Inferno?
A violência sagrada foi sempre filha da fé e dos interesses que à sua volta gravitam. Da Irlanda do Norte ao Chipre e à ex-Jugoslávia quantas mortes se devem aos desvarios da fé e à competição pelo negócio das almas?
Persistir nas referências religiosas da Europa e na sua consagração constitucional não é apenas redundante, é uma provocação às religiões excluídas, um braço de ferro com a laicidade e um desafio à secularização que permitiu a exclusão religiosa dos motivos de confronto no espaço civilizacional europeu.
Há uma conquista civilizacional de que todos beneficiamos, crentes, ateus e agnósticos, o carácter laico do Estado e a lógica separação das Igrejas. O proselitismo incorrigível dos crentes é um perigo que espreita das madraças de cada seita, dos púlpitos de todas as religiões.
Quem nos defende da obsessão que alguns sentem de salvar todos os outros? Por que motivo não se contentam com a salvação própria deixando em paz os que se desinteressam, apesar das prometidas delícias do Paraíso ou das ameaças com as perpétuas penas do Inferno?
Comentários
Já não me recordo da tréplica de Soares.
Entretanto, considero um tanto ingênuo sua maneira de apresentar a religião medieval. Você a coloca como "Sujeito" principal, ignorando todos os interesses políticos e econômicos.
A religião, em especial a Igreja Medieval, valeu-se de seu discurso religioso para legitimar interesses de poder. Sim! Isso é inegável! Mas não era a principal motivadora.
A mola da "história" não está somente de uma "força", mas de múltiplas forças. A religião é apenas uma delas.
A despeito da religião ser preponderante entre os acadêmicos e no senso comum medievais, ela sempre foi "serva da economia", ainda que numa sociedade considerada "teocêntrica".
Abraço.