Porquê a baronesa Catherine Ashton e não o “cristão-novo” Tony Blair?


O partido Trabalhista dirigido por Brown, a confirmarem-se as mais variadas e dispares previsões, deverá perder as próximas eleições gerais em favor do partido Conservador.

Qual a estratégia dos conservadores britânicos?

Após a ratificação do Tratado de Lisboa os conservadores rejeitando a hipótese de qualquer veleidade referendária porque a sua estratégia em relação à UE passa – uma vez conquistado o Poder - por uma série de limitações para cercear possíveis efeitos nefastos às atitudes nacionalistas e eurocépticas. Estas medidas visam condicionar, em primeiro lugar, abusivas (ou inoportunas) extensões da jurisdição europeia.
Seguidamente, pretendem negociar internamente, i.e., sem qualquer interferência de Bruxelas as políticas sociais (nomeadamente o emprego).
Desde que David Cameron, em 2005, se tornou o líder dos tories que – em relação à UE – se instalou uma duplicidade política , sob o eufemismo daquilo que a Direita chama realpolitik.

A sua prioridade não é a Europa. Como qualquer partido de Direita ou de Centro Direita são as questões domésticas – as que dão votos! – o centro das preocupações de Mr. Cameron. Elas dizem respeito aos serviços públicos, às alterações climáticas, à pobreza e ao equilíbrio das infraestruturas.

Rejeitada no Reino Unido a via do referendo para a aprovação do Tratado de Lisboa, o líder do partido Conservador encontrou caminho aberto para respeitar compromissos passados que lhe permitem manter o partido unido. Isto é, manter os eurocépticos a bordo, condição essencial para derrotar Brown.
Os partidos frontalmente anti-europeus como o Partido de Independência britânico (UKIP) ou o Partido Nacional Britânico (BNP), na actual situação dominada pelos eurocépticos, não estorvam.
Cameron não quer repetir o erro de John Major que perdeu o poder ao posicionar-se numa atitude de afrontamento perante os eurocépticos que, na realiade, são mais do que se julgam e representam um enorme peso na manobra partidária.
A retirada dos conservadores britânicos do Partido Popular Europeu foi uma decisão – já tomada – que inquinou as relações de Cameron com outros líderes europeus.

Blair caiu em desgraça neste contexto. Não conseguiu, devido à proximidade eleitoral, colher o apoio conjunto e concertado das forças políticas britânicas, nomeadamente, porque os ditos eurocépticos, cada vez mais influentes na manobra da política europeia do Reino Unido, preferiram jogar em contrapartidas e apostaram numa Lady, trabalhista e, segundo julgo, anglicana.

Aí nasceu a candidatura da baronesa que para além das questões de género, fez entrar uma personalidade, pelas mãos do Partido Socialista Europeu, carregando um título nobiliário, no topo da hierarquia da UE. Uma via pouco ortodoxa de enobrecer a política...
Pouco importa que não possua aptidões específicas (conhecidas) para o exercício do cargo de Alta Representante para as Relações Externas da UE.

Na actual UE pouco se avança, mas os equilíbrios políticos são o leitmotiv de todas as decisões...

Comentários

andrepereira disse…
assim como não valorizo negativamente as origens dos políticos vindos do povo, também não valorizo negativa (ou positivamente) a origem nobre da Senhora. Como republicano, entendo que devem servir a causa pública os melhores, e ela tem dado provas.
Por vezes abusamos ( e eu também) no destaque que damos ao título que ela adquiriu por nascimento. É um erro. Mas fora isso é-me indiferente que ela seja nobre e anglicana. Interessa-me mais que seja socialista e competente.
e-pá! disse…
Caro André Pereira:

O problema não é o "berço". Já lá vai o tempo em que isso contava.
Por outro lado, a mutação religiosa de Blair, embora não tendo qualquer significado político, é definidora de um tipo de carácter em que o oportunismo não será estranho...

O que se questiona é outra coisa. Sejamos claros. Conhecido - como parece ser consensual - o deficit de competência e a inexperiência da Lady Ashton para o exercício das suas novas funções é natural que se questione se a sua nomeação seja (ou não) fruto de outros ocultos "arranjos".

Não é dificil descortinar, neste caso, que a Lady aparece como "prémio de consolação" (compensatório) da exclusão de Tony Blair.
Eventuais acordos entre o PPE, o PSE, e a ala conservadora eurocéptica (neo-thatcherista), parecem responder por este consenso na nomeação da Lady Ashton.
Os pormenores ficarão no segredo dos deuses.
Mas há um facto que se tornou nítido: os eurocépticos europeus ganharam espaço de manobra na dinâmica europeia. O que, para mim, é um mau augúrio para o futuro da Europa...

Aliás, todo este episódio evoca-me a histórica lenda do cavalo de Tróia...
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