A informática, essa espécie de bruxaria
Antigamente a
bruxaria era apanágio feminino que alimentava fogueiras e medos coletivos.
Aproveitavam a calada da noite para os conciliábulos e a vassoura para
transporte até às encruzilhadas dos caminhos onde desembocavam fantasmas e se
rogavam pragas. Era aí que a tradição judaico-cristã domiciliava a origem das
desgraças que semeavam o pânico na plebe e a loucura nos inquisidores.
Hoje, os feiticeiros têm o nome impresso à entrada dos
gabinetes que acendem as luzes à sua chegada, ar condicionado que evita às
pituitárias a náusea do odor corporal e computadores onde escondem o saco dos
sortilégios.
Circulam sem cerimónia no Windows, deslocam-se em
confortáveis automóveis que deixam aprisionar no inferno do trânsito. Vivem num
mundo de luzinhas, textos esotéricos que refletem a cabala matemática em
sequências de 0 e 1, linguagem binária inacessível a profanos e que estarrece
os basbaques. Foi-se o pacto com o demónio.
Os informáticos rezam com o teclado e devassam as trevas do
ciberespaço, incapazes de lançar mau olhado. Há bruxos estabelecidos por conta
própria e outros que trabalham em
multinacionais donde saem programas de várias gerações, informação para todos
os gostos e links* à espera de um clique.
Não sei como conseguiu Bill Gates evitar ao exorcista
oficial da Igreja católica, o padre Gabriele Amorth, a tentação de lhe esconjurar
os demónios.
Que sorte para os informáticos, terem morrido Jaime I e
Inocêncio VIII. O primeiro, em Inglaterra, mandava pagar prémios em dinheiro
aos denunciantes de suspeitos de bruxaria e o segundo mandou os inquisidores descobrir
e eliminar bruxas, incumbência que desempenharam a preceito.
*Link – Feitiço que
transforma a seta do rato numa mãozinha de beato a bater no peito.
Comentários
E onde publicou o cavalheiro esta magnifica peça, de eloquência indescritível?
Num jornal? Numa edição de autor? Numa editora respeitada?
Não.
Num blog! Instrumento último destes maliciosos novos bruxos!
Parafraseando e utilizando este novo e eclético tecnoleto da bruxaria moderna: ROFLMAO :)