Notas soltas: fevereiro/2013
Remodelação – Com a contratação do novo secretário de Estado,
Franquelim Alves, ex-administrador da SLN, Passos Coelho há de julgar-se o
Oliveira e Costa do Governo mas bastava-lhe o ministro Relvas para não precisar
de justificação.
TGV – Já Durão Barroso, parco na ética e na coerência, usou o
TGV como arma de arremesso eleitoral, para depois assinar com pompa e
circunstância, cinco linhas. O atual sucessor, menos perspicaz e mais perigoso,
segue a mesma estratégia.
Eleições autárquicas – A lei da limitação de mandatos é uma
eloquente metáfora do sistema jurídico português. A aplicação depende dos
interessados e das conveniências partidárias.
Espanha – A primeira vítima do escândalo político de subornos
ao mais alto nível, o «caso Gürtel», foi o próprio juiz Baltasar Garzón. Os
corruptos não puderam destruir as provas do El País mas conseguiram previamente
demitir o investigador.
Tunísia – O funeral do líder da oposição ao governo saído da
“primavera árabe”, transformou-se numa gigantesca manifestação contra o partido
islamita que domina o país, responsável pelo seu assassinato. O Islão e a
democracia continuam incompatíveis.
Alemanha – Uma ministra suspeita de ter plagiado parte da tese
de doutoramento teve de demitir-se para preservar a confiança dos alemães no
Governo da Sr.ª Merkel. Em Portugal ficaria no cargo ainda que tivesse obtido o
doutoramento por equivalência.
Vaticano – A renúncia de Bento XVI ao pontificado, com efeitos
a partir do dia 28, fez dele o primeiro papa, desde há 600 anos, a sair vivo do
cargo.
Coreia do Norte – A obscura ditadura insiste em provocar o
mundo com ameaças nucleares. O fim da monarquia dita comunista não é apenas
urgente, é uma medida imprescindível para a higiene política e a sobrevivência
do seu povo.
Desemprego – Portugal está a 77 mil do milhão de desempregados.
São poucos os meios para inverter a dramática situação mas nunca se fez pior,
nem tão depressa, e com tanto orgulho e insensibilidade. O desemprego real
atinge os 22%.
PR – Cada vez mais sedentário e silencioso, refugiado no
Palácio de Belém, não tem uma palavra de consolo, um gesto de solidariedade ou
um sinal de esperança para o milhão de portugueses atingidos pela tragédia do
desemprego.
Itália – A renúncia papal acabou por desinteressar muitos
italianos das eleições em curso. O apoio do Vaticano, que tinha sido
transferido de Berlusconi para Monti, foi um fracasso. A intriga ficou
reservada à luta interna pela sucessão do pontífice.
Finanças – A exigência de mostrar faturas, sancionando os
clientes que as não solicitem, revela o desespero do Governo e transforma um
direito numa obrigação que arrasta a revolta, a fúria e o desprezo.
Emigração – Duzentos mil jovens poliglotas, altamente
preparados, é a perda do país, incapaz de rentabilizar o investimento feito e
cada vez mais afastado dos caminhos da recuperação económica, social e
financeira. Perdemos os jovens e o futuro.
União Europeia – Verifica-se a metáfora da bicicleta: se parar,
cai. Apesar da oposição, só o avanço federalista, rápido e decidido, evitará a
desagregação económica, social e política do espaço europeu.
Lei do arrendamento urbano – Não espanta que a mais desumana
lei contra os inquilinos e, em alguns casos, terrorista, chegue pela mão de uma
ministra do CDS. O pequeno partido, que sabe infiltrar-se bem no aparelho do
Estado, mostra a sua natureza.
Carlos Brito – A dimensão humana, cívica e patriótica do
resistente à ditadura mereceu a homenagem de que foi alvo no seu 80º
aniversário, homenagem que devia ter sido nacional se o sectarismo partidário
não se confundisse com a ingratidão.
Fernando Ulrich – Antigamente os banqueiros mandavam nos
governos mas guardavam silêncio. Hoje, já não se limitam a mostrar quem manda,
insultam quem querem e decidem a austeridade que pretendem e o nível de sofrimento
suportável.
Venezuela – O regresso do carismático presidente, cuja doença
impediu o início regular deste mandato, pode permitir uma situação negociada
que evite a tradição de discutir pelas armas as dúvidas constitucionais e as
rivalidades partidárias.
PGR – A não recondução de Cândida Almeida à frente do DCIAP é
um direito. Se o processo disciplinar se deveu a violações do segredo de
Justiça foi um dever. Se há
interferência sindical ou política, expira a credibilidade que resta ao
Ministério Público.
Irlanda – O pedido de perdão do primeiro-ministro, emocionado
com o suplício de dez mil mulheres escravizadas em lavandarias da Igreja
católica, entre 1922 e 1966, foi a reabilitação possível das vítimas de
gravidez indesejada, deficiência, pobreza ou crimes como andar de autocarro sem
pagar bilhete.
Itália (2) – O FMI impôs Mário Monti. Os eleitores
desforraram-se do vexame com o cómico Beppe Grillo (25%) e a reincidência em
Berlusconi. A excentricidade do voto deixou o país ingovernável e a Europa mais
próxima do desastre.
Ponte Europa / Sorumbático
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