Eleições Europeias e ‘insanáveis’ espectros sobre vários impasses…
As eleições para o Parlamento Europeu (PE) caminham, por toda a Europa, num ambiente morno e desinteressante. Nos casos em que, à volta deste acto eleitoral, possam existir 'sobressaltos' estes dizem respeito a questões de política interna.
Tem sido esse o ‘cenário português’.
Tem sido esse o ‘cenário português’.
Aparentemente, as eleições europeias poderiam (deveriam) abrir a perspectiva de dar uma nova configuração política ao PE e, desde modo, influenciar a escolha do próximo presidente da Comissão Europeia (CE), segundo as regras estabelecidas pelo Tratado de Nice.
E a escolha dos cidadãos europeus recairia sobre o tradicional ‘arco da governabilidade europeia’ que tem formatado o PE.
Em confronto, nesta situação, estariam os candidatos do Partido Popular Europeu (PPE) e do Partido Socialista Europeu (PSE), Juncker e Schulz, respectivamente.
Só que, em relação à Europa, a mediocridade do actual presidente (Durão Barroso) esvaziou literalmente as competências da Comissão Europeia. Este o primeiro grande problema.
Em abono da verdade, interessa salientar que desde o fim do mandato de Jacques Delors (início de 1995) o exercício de competências políticas pela Comissão pouco tem influenciado a ‘governação europeia’ (um outro mito).
Como sabemos a sucessão de Delors originou a ‘Comissão Santer’ que não conseguiu acabar o seu mandato tendo sido forçada a demitir-se embrulhada em corrupção e má gestão. Daí para a frente – com Prodi e agora com Barroso – a CE não deixou de perder capacidade de liderança, representatividade e prestígio.
As actuais eleições europeias visam avaliar e questionar o equilíbrio de forças no seio do Parlamento Europeu há longo tempo dominado pelos conservadores (PPE). Mas, por outro lado, as actuais eleições funcionam como um encapotado plebiscito à ‘Europa da Srª. Merkel’.
Nada garante uma vitória do PSE. A grande incógnita paira sobre a real expressão eleitoral da Extrema-Direita que espera desempenhar um ‘papel charneira’ na eventualidade de se gerarem novos (outros) equilíbrios. Considerado o futuro da UE resta constatar que alguns perigos espreitam. As eleições municipais francesas revelaram uma nova postura dos conservadores. Não hesitarão em aliar-se à Extrema-Direita para derrotar a Esquerda (que continua a revelar uma total incapacidade em entender-se) e, deste modo, manter-se na liderança europeia, nestes tempos de crise e de 'ajustamentos', impondo as suas políticas.
Mas mesmo no caso de uma vitória do PSE fica em suspenso a possibilidade do Conselho Europeu – considerando os moldes como tem funcionado nos últimos anos - insistir na prossecução das actuais políticas de austeridade e de limitação do desenvolvimento dos países periféricos e indigitar para o cargo de presidente da CE um conservador (Juncker ou outro) criando um grave conflito institucional (entre o Conselho Europeu e o Parlamento).
Existe uma outra hipótese: Bruxelas poderá ser contaminada – em nome da crise e da estabilidade - pela recente estratégia de ‘concertação política’ e que um ‘pacto institucional’ englobando o ‘centrão europeu’ nasça desse impasse e se afirme na liderança. Este seria o haraquíri da social-democracia, não só na Europa, mas no Mundo. A acontecer tal ‘pesadelo’, ficaria assegurada a hegemonia de Berlim mas a Europa [enquanto projecto democrático] afundar-se-ia, estrondosamente, em ‘insanáveis’ contradições e querelas.
O que resta então a Portugal?
- Um referendo sobre a UE (que tarda!).
Comentários
Inclino-me para a última hipótese que "colocou" (como agora é moda dizer-se). E a surpreendente nomeação pelo PS do Dr. Assis - o das alianças com os partidos da direita - como cabeça de lista assenta que nem uma luva nessa linha.(A menos que tenha, como não quero acreditar, motivações muito mais sórdidas relacionadas com querelas intestinas...).