A Igreja católica e a IVG
Surpreende-me a violência dos ataques dos movimentos pró prisão aos que pretendem, apenas, que as mulheres (quase sempre pobres) não sejam alvo de devassa da sua vida íntima, da perseguição policial e do julgamento que as pode conduzir à prisão.
Surpreende-me que a Igreja católica, que foi violentamente contra a despenalização do aborto nos casos de malformação do feto, perigo de vida da mãe e violação, mantenha hoje o discurso trauliteiro e as mesmas imagens obscenas de então.
Surpreende-me que, enquanto em Portugal os 20 bispos titulares de dioceses, sem uma única excepção, se empenhem em manter a violência legal contra as mulheres, que em desespero recorrem à interrupção voluntária da gravidez, os bispos de Malta mantêm a mesma intolerância em relação ao divórcio e os de Timor no que diz respeito ao uso de contraceptivos.
Surpreende-me que os recursos financeiros sejam tão amplos para os defensores da prisão e tão escassos para os partidários da despenalização.
Surpreende-me, ainda, que o único Estado do mundo sem maternidade - o Vaticano -, se empenhe tão denodadamente na coacção das consciências e no desafio à legalidade (caso de um clérigo que já ameaçou fazer campanha na missa do próprio dia do referendo).
Surpreende-me, finalmente, que um país laico tivesse ficado refém da vontade clerical sem ter resolvido o problema da IVG em sede própria, na Assembleia da República, um problema de saúde pública que atira as mulheres pobres para o vão de escada, a prisão e o cemitério.
Ponte Europa/Diário Ateísta
Surpreende-me que a Igreja católica, que foi violentamente contra a despenalização do aborto nos casos de malformação do feto, perigo de vida da mãe e violação, mantenha hoje o discurso trauliteiro e as mesmas imagens obscenas de então.
Surpreende-me que, enquanto em Portugal os 20 bispos titulares de dioceses, sem uma única excepção, se empenhem em manter a violência legal contra as mulheres, que em desespero recorrem à interrupção voluntária da gravidez, os bispos de Malta mantêm a mesma intolerância em relação ao divórcio e os de Timor no que diz respeito ao uso de contraceptivos.
Surpreende-me que os recursos financeiros sejam tão amplos para os defensores da prisão e tão escassos para os partidários da despenalização.
Surpreende-me, ainda, que o único Estado do mundo sem maternidade - o Vaticano -, se empenhe tão denodadamente na coacção das consciências e no desafio à legalidade (caso de um clérigo que já ameaçou fazer campanha na missa do próprio dia do referendo).
Surpreende-me, finalmente, que um país laico tivesse ficado refém da vontade clerical sem ter resolvido o problema da IVG em sede própria, na Assembleia da República, um problema de saúde pública que atira as mulheres pobres para o vão de escada, a prisão e o cemitério.
Ponte Europa/Diário Ateísta
Comentários
A defensora do não, não quer ver o aborto liberalizada e contudo nada faz para o combater. Pensa que se na lei este for ilegal pode alegremente enterrar a cabeça na areia e fingir que o problema não existe, que compete ao Estado aplicar a lei.
A defensora do sim, é tão hipócrita como a anterior, pois é certo que vê o problema, mas nada faz para o resolver. Defende a legalização, mas uma vez esta na lei enterrará a sua cabeça esperando que a sua colega ou o Estado façam algo.
Na verdade, nenhum dos lados tem como objectivo a erradicação de abortos em Portugal, o único objectivo que têm e ver na lei consagrado a limpeza das suas consciências, as do não o pecado de abortar, as do sim o pecado de prender mulheres.
Uma vez limpa a consciência irão fazer o que as avestruzes melhor fazem: enterrar a cabeça na na areia.
Enfim...
Mas é verdade que tem razão no que diz acerca da IVG. O problema não são os abortos são as abortadeiras.
E, à burguesa, depois da lei aprovada toda a gente dorme descansada. Quem quiser que se enterre no lamaçal dos pobres e desprotegidos desta vida para dar uma qualquer ajuda ao povo.
O problema é de responsabilidade cívica e pessoal. Ou melhor, de irresponsabilidade.
Qualquer acto humano tem que ser responsável perante si e perante os outros. Os actos sexuais não devem fugir à regra.
Assim, salvaguardando as devidas excepções, o aborto livre, quer queiram quer não traz mais irresponsabilidade à sociedade no seu todo.
E num País que não é propriamente modelo de respeito cívico, onde a grande maioria da população não sabe o que é ser cidadão, é mais uma forma de desagregação da família.
Por muito que doa, quer queiram quer não...
Ao contrário do que discorre no seu texto nada do que venha da ICAR me surpreende.
No entanto, estou solidário com a sua revolta.
...nem a utilização de preservativo como preventivo de uma doença catastrófica dos nossos dias,permite...
Agora, a sua última surpresa... Essa sim surpreende-me e de que maneira! Num Estado Laico!
Um governo "democrático-ditatorial", com o apoio da AR para todos os seus actos ditatoriais , com uma enorme preocupação na contenção de despesas,vai fazer um Referendo numa área restrita da saúde???...
Ignora-se (ou faz-se por isso) que, todos os dias, há IVG's, de todos os modos e feitios, conforme as capacidades económicas.
Ignoram-se as sequelas físicas e morais desta tragédia.
A despenalização da IVG até às 10 semanas é, tão somente, o possível e o mininamente justo, nesta imensa iniquidade.
Porquê então tanto barulho da parte de quem (ICAR) não tem tido outra proposta senão proibir?
Seja, então, bem-vinda, em mais uma santa batalha pela Civilização, pela Verdade Suprema de Cristo, pela VIDA.
Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade