Referendo - Comício do «NÃO»
Junto à estátua de D. José, o rei que expulsou os jesuítas de Portugal, algumas dezenas de católicos juntaram-se ontem de manhã para rezar o terço, atraindo as atenções dos raros turistas indiferentes à névoa fria que pairava sobre o Terreiro do Paço. Pastoreados pelo padre Dehoniano Macedo, pároco da igreja do Loreto, ao Chiado, intercalavam as rezas com cânticos ritmados em louvor à Virgem. Mais mulheres que homens, mais idosos que jovens (...)
Diário de Notícias - Pedro Correia / Leonardo Negrão (imagem)
Comentários
"raro turista"
- a independência da movimentação do Não em relação à Igreja;
- os rituais religiosos como substitutos do esclarecimento;
- a transformação da despenalização da IVG numa questão de fé;
- os referendos a inquinar a doutrina católica que se alimenta de dogmas;
- e, umas cançonetas para amenizar o frio e manter a "chama" acesa.
Diogo.
Este folclore ilustrativo do atraso intelectual, cívico e civilizacional deste nosso país, já não me surpreende nem me preocupa.
Quando por lá passei, na Praça do Comércio, não senti revolta, não senti repulsa. O que senti foi uma espécie de pena, uma quase solidariedade por aquela gente ignorante, ao frio, uma imagem de solidão, de cinzentismo, de depressão, de tristeza...
O que me preocupa, é que, até ao dia 11 de Fevereiro, o partido político mais bem organizado do país, com sedes em todas as cidades, vilas e aldeias, militantes motivados, fanáticos, chantagistas, obscurantistas, sentimentalistas de pacotilha, vão fazer campanha.
Com desonestidade, apelando ao medo, à culpa, à chantagem mais básica e nojenta.
Padres, beatas e beatos, bispos e quejandos. Mestres na arte da manipulação, mestres na arte da chantagem, mestres na arte da hipocrisia, da mentira e do maniqueísmo.
Mestres das trevas, do dogma intocável e indiscutível. Especialistas da manhozice disfarçada de doçura, da promoção da ignorância disfarçada de "defesa da vida".
Verdadeiras autoridades, nas brenhas isoladas, incultas, medrosas e acríticas deste tão rural país que há tão pouco tempo se livrou de uma ditadura beata, autista e miserabilista.
É inacreditável, mas é verdade que ainda existe um país tão triste como este! Onde parece que o tempo, a fome, a miséria, a história e as suas lições, a experiência da vida, nada disso passou!
Paz à sua alma.
Pena é terem em dada altura voltado as costas ao Tejo.