Centenário da República – Dr. João Lopes Soares
As comemorações do Centenário da República são um excelente pretexto para reflectir sobre uma das mais fecundas e estimulantes épocas da História de Portugal, sobre o que se fez, o que podia ter sido feito, o que não devia, e o que os adversários impediram. É altura de fazer o inventário do que foi possível, percebendo o que falhou e porquê, e regozijarmo-nos com os avanços a que o 5 de Outubro de 1910 deu origem.
É igualmente tempo de prestar homenagem aos republicanos cujo exemplo e dedicação à causa pública, ou contributo para o progresso social e intelectual, estão na génese do movimento das ideias que conduziu a esta Segunda República, estabelecida pelo MFA, em 25 de Abril de 1974, depois de uma longa e sinistra ditadura.
Entre os vultos da 1.ª República conta-se a figura íntegra de João Lopes Soares, escritor, político e pedagogo, que influenciou várias gerações de alunos que estudaram no estabelecimento de ensino que criou – o Colégio Moderno.
João Lopes Soares formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra, em 1900 e foi padre, a contragosto, para satisfazer a mãe. Foi capelão militar, de alferes até capitão, no Regimento de Artilharia n.º 2, em Alcobaça, donde transitou em 1905 para Infantaria 16, em Lisboa, onde se iniciou na propaganda republicana o que lhe valeu a prisão e transferência para o Regimento de Vila Viçosa, em 1908.
Implantada a República, foi sucessivamente Governador Civil dos distritos da Guarda, Braga e Santarém; deputado pelos Círculos de Guimarães e Leiria; ministro das Colónias, em 1919, e desempenhou outros cargos públicos. Apesar da notável carreira política, foi como pedagogo que mais se destacou e que a sua influência mais se fez sentir.
Não o impediu a sotaina de assumir a paternidade e de criar os filhos, um acto honrado de cidadão que o múnus não impediu. O primeiro foi Tertuliano Lopes Soares, de Joaquina Ribeiro da Silva, quando era capelão militar em Alcobaça, filho que educou e fez médico cirurgião; o segundo foi Mário Soares, de D. Elisa Nobre Batista com quem casou depois de lhe ter sido conferida a anulação das Ordens por sentença do Papa Pio XI em Agosto de 1927.
Ostracizado por Salazar, o antigo professor do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, fundou em 1935 o Colégio Moderno, na Azinhaga de Malpique, hoje Rua João Soares, estabelecimento de ensino de rara qualidade, onde leccionaram muitos dos opositores da ditadura, como Álvaro Cunhal, Agostinho da Silva ou Álvaro Salema. João Soares foi autor de vários livros escolares, entre os quais se destacou o Novo Atlas Escolar Português, e autor ou co-autor de obras de conteúdo histórico, nomeadamente “Os povos orientais e a Grécia”, a “História de Roma e da Idade Média”, ambos de 1922, “A Idade Moderna e Contemporânea”, também de 1922, e “Os Quadros de História de Portugal”, de 1917, de parceria com Chagas Franco. Na área da Geografia, relevo também para: o “Atlas Auxiliar de Iniciação Geográfica” (1924); o “Atlas Histórico-Geográfico” (1924); e o já citado “Novo Atlas Escolar Português” (1926).
João Soares só não esteve na Rotunda, em Lisboa, para participar na revolução do 5 de Outubro de 1910, devido à morte de seu pai, no dia 4, em Arrabal (Leiria), mas após o 28 de Maio teve o seu nome associado a quase todas as intentonas contra a ditadura.
Detentor de sólida cultura e de notável espírito cívico, o salazarismo teve nele um adversário coerente e empenhado. Por isso sofreu o cárcere e a deportação para a Madeira e Açores, quem, já antes, em 1918, tivera de se exilar em Vigo (Espanha), após o golpe de Sidónio Pais.
Não beneficiou do reconhecimento público por ser pai de Mário Soares, insigne republicano e o mais eminente civil do regime democrático saído do 25 de Abril e da Constituição de 1976. O Dr. João Soares continua a ser uma referência para milhares de alunos que receberam excelente preparação académica e cultura cívica transmitidas no Colégio Moderno, uma escola de cidadania e viveiro de democratas.
Em prefácio datado de 1.º de Novembro de 1924, o Dr. João Soares defende um ensino que desperte a curiosidade, num processo em que o aluno seja levado a ver e a relacionar os factos, uma visão progressista de um pedagogo que abraçou a República que herdou da monarquia 70% de analfabetos e que passaria a obrigatoriedade escolar de 3 para 5 anos, período que o salazarismo, de novo, se encarregaria de encurtar.
Quando faleceu, próximo dos 92 anos, o grande republicano e emérito pedagogo tinha o filho, Mário Soares, exilado, a seguir-lhe o exemplo, acossado pela ditadura e a lutar pela liberdade.
O Dr. João Soares jaz, de acordo com a sua vontade, no cemitério das Cortes, na campa n.º 357, junto dos restos mortais de sua mãe, que falecera em 30 de Outubro de 1926.
Bibliografia: Jornal da Cortes (Manuel Paula Maça e Carlos Fernandes)
É igualmente tempo de prestar homenagem aos republicanos cujo exemplo e dedicação à causa pública, ou contributo para o progresso social e intelectual, estão na génese do movimento das ideias que conduziu a esta Segunda República, estabelecida pelo MFA, em 25 de Abril de 1974, depois de uma longa e sinistra ditadura.
Entre os vultos da 1.ª República conta-se a figura íntegra de João Lopes Soares, escritor, político e pedagogo, que influenciou várias gerações de alunos que estudaram no estabelecimento de ensino que criou – o Colégio Moderno.
João Lopes Soares formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra, em 1900 e foi padre, a contragosto, para satisfazer a mãe. Foi capelão militar, de alferes até capitão, no Regimento de Artilharia n.º 2, em Alcobaça, donde transitou em 1905 para Infantaria 16, em Lisboa, onde se iniciou na propaganda republicana o que lhe valeu a prisão e transferência para o Regimento de Vila Viçosa, em 1908.
Implantada a República, foi sucessivamente Governador Civil dos distritos da Guarda, Braga e Santarém; deputado pelos Círculos de Guimarães e Leiria; ministro das Colónias, em 1919, e desempenhou outros cargos públicos. Apesar da notável carreira política, foi como pedagogo que mais se destacou e que a sua influência mais se fez sentir.
Não o impediu a sotaina de assumir a paternidade e de criar os filhos, um acto honrado de cidadão que o múnus não impediu. O primeiro foi Tertuliano Lopes Soares, de Joaquina Ribeiro da Silva, quando era capelão militar em Alcobaça, filho que educou e fez médico cirurgião; o segundo foi Mário Soares, de D. Elisa Nobre Batista com quem casou depois de lhe ter sido conferida a anulação das Ordens por sentença do Papa Pio XI em Agosto de 1927.
Ostracizado por Salazar, o antigo professor do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, fundou em 1935 o Colégio Moderno, na Azinhaga de Malpique, hoje Rua João Soares, estabelecimento de ensino de rara qualidade, onde leccionaram muitos dos opositores da ditadura, como Álvaro Cunhal, Agostinho da Silva ou Álvaro Salema. João Soares foi autor de vários livros escolares, entre os quais se destacou o Novo Atlas Escolar Português, e autor ou co-autor de obras de conteúdo histórico, nomeadamente “Os povos orientais e a Grécia”, a “História de Roma e da Idade Média”, ambos de 1922, “A Idade Moderna e Contemporânea”, também de 1922, e “Os Quadros de História de Portugal”, de 1917, de parceria com Chagas Franco. Na área da Geografia, relevo também para: o “Atlas Auxiliar de Iniciação Geográfica” (1924); o “Atlas Histórico-Geográfico” (1924); e o já citado “Novo Atlas Escolar Português” (1926).
João Soares só não esteve na Rotunda, em Lisboa, para participar na revolução do 5 de Outubro de 1910, devido à morte de seu pai, no dia 4, em Arrabal (Leiria), mas após o 28 de Maio teve o seu nome associado a quase todas as intentonas contra a ditadura.
Detentor de sólida cultura e de notável espírito cívico, o salazarismo teve nele um adversário coerente e empenhado. Por isso sofreu o cárcere e a deportação para a Madeira e Açores, quem, já antes, em 1918, tivera de se exilar em Vigo (Espanha), após o golpe de Sidónio Pais.
Não beneficiou do reconhecimento público por ser pai de Mário Soares, insigne republicano e o mais eminente civil do regime democrático saído do 25 de Abril e da Constituição de 1976. O Dr. João Soares continua a ser uma referência para milhares de alunos que receberam excelente preparação académica e cultura cívica transmitidas no Colégio Moderno, uma escola de cidadania e viveiro de democratas.
Em prefácio datado de 1.º de Novembro de 1924, o Dr. João Soares defende um ensino que desperte a curiosidade, num processo em que o aluno seja levado a ver e a relacionar os factos, uma visão progressista de um pedagogo que abraçou a República que herdou da monarquia 70% de analfabetos e que passaria a obrigatoriedade escolar de 3 para 5 anos, período que o salazarismo, de novo, se encarregaria de encurtar.
Quando faleceu, próximo dos 92 anos, o grande republicano e emérito pedagogo tinha o filho, Mário Soares, exilado, a seguir-lhe o exemplo, acossado pela ditadura e a lutar pela liberdade.
O Dr. João Soares jaz, de acordo com a sua vontade, no cemitério das Cortes, na campa n.º 357, junto dos restos mortais de sua mãe, que falecera em 30 de Outubro de 1926.
Bibliografia: Jornal da Cortes (Manuel Paula Maça e Carlos Fernandes)
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abraço