Antes das 11 horas da manhã, uma numerosa comitiva de polícias, militares da GNR, e alguns outros do Exército, tomaram posições em frente à Igreja de Santa Cruz. Bem ataviados esperavam a hora de deixarem a posição de pé e mergulharem de joelhos no interior do templo do mosteiro beneditino cuja reconstrução e redecoração por D. Manuel lhe deu uma incomparável beleza. Não era a beleza arquitetónica que os movia, era a organização preparada de um golpe de fé definido pelo calendário litúrgico da Igreja católica e decidido pelas hierarquias policiais e castrenses. Não foi uma homenagem a Marte que já foi o deus da guerra, foi um ato pio ao deus católico que também aprecia a exibição de uniformes e a devoção policial. No salazarismo, durante a guerra colonial, quando as pátrias dos outros eram também nossas, não havia batalhão que não levasse padre. Podia lá morrer-se sem um último sacramento!? Éramos o país onde os alimentos podiam chegar estragados, mas a alma teria de seguir lim...
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A situação politica, económica e social portuguesa está tão "perturbada" que será inevitável construir uma estratégia consensual para o futuro, contemplando o modelo de desenvolvimento e, prioritariamente, um eficiente combate às, cada vez mais vastas, bolsas de pobreza geradoras de um volumoso número de "excluídos", nódoa social intolerável com a consciência e o exercício de uma cidadania democrática.
Na última campanha eleitoral para as Legislativas tivemos oportunidade de vislumbrar distintos e dispares modelos para enfrentar a crise no “nosso” País.
Na discussão do OGE tivemos oportunidade de observar que a procura desse consenso, por parte do Governo, sofreu de múltiplos enviesamentos.
Havendo uma clara maioria sociológica de Esquerda a busca de acordos deslocou-se para a área do Centro-Direita.
Certo, que a Esquerda - de forma abrupta - bloqueou o debate e a obtenção de um alargado acordo estratégico que respeitasse um equilíbrio entre o esforço da contribuição dos portugueses e observasse, ao mesmo tempo, equidade na distribuição da riqueza. Deixou, assim, o Governo prisioneiro da Direita.
Uma Direita que vive e sobrevive à volta dos seus próprios interesses à revelia das relevantes questões públicas, sejam elas, políticas, económicas ou sociais, colocou-se disponível para negociar. Os resultados estão à vista.
O OGE deverá passar sem qualquer compromisso formal quanto ao nosso futuro que, como sabemos, não finda em 2010.
A abstenção do CDS/PP e do PSD não é mais do que a fuga ao assumir responsabilidades e comporta a ilusão de que esse Centro-Direita “trabalha” para o bem comum, ao evitar, melhor seria dizer, ao adiar, uma grave crise política.
A discussão prévia do OGE revelou, antes de tudo, um intolerável autismo das forças políticas perante um surdo clamor nacional e criou um tremendo vazio estratégico, totalmente desfasado da grave crise económica e financeira em que o País está mergulhado.
O OGE de 2010, será mais um documento para sustentáculo da nossa deriva perante o futuro.
Até quando o País suporta tamanha irresponsabilidade?
Por este caminho não vamos longe, apesar do qualificado e oportuno apelo do Dr. Jorge Sampaio.
Ninguém – nem a Esquerda nem a Direita – serão, no futuro, isentadas das suas enormes responsabilidades. E quando o “pânico” se instala, a Democracia estremece…
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