Os “socialistas católicos” e o seu actual “miasma” político…


Isilda Pegado, provedora-mor da luta pelo referendo para decidir sobre a extensão de direitos civis e sociais que a lei dos casamentos homossexuais representa, confunde socialismo com catolicismo e esgrime ameaças aos dirigentes do PS.

Classifica a opção do PS como:” uma posição antidemocrática, virando ostensivamente as costas ao Povo”….

E, a Plataforma Cidadania e Casamento vai mais longe. Chega à ameaça ao afirmar que a votação realizada na AR sobre a legalização do casamento homossexual é “um grave desrespeito pelos cidadãos”, etc.

Não conhecíamos esta tendência católica no interior do PS. Mas segundo a concepção de Isilda Pegado ela terá uma inusitada representatividade.
Aliás, a referida promotora de referendos para além de uma vigorosa militancia nas hostes desta tendência, tem, no mínimo, uma concepção bizarra sobre representatividade democrática.
Já no referendo de 2007 mostrou a sua bizarria argumentativa ao afirmar, peremptoriamente, que o uso do preservativo não impede a transmissão do vírus da sida …
A dita Senhora exalta a representatividade dos referendos e é prolixa na exibição de descabidos argumentos, mas ignora olimpicamente a representatividade democrática da Assembleia da República.

Todavia, a sua concepção de “socialistas católicos” é, em princípio, uma aberração política, mas não uma inocente "confluência"...

Socialismo, lato sensu, refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização económica advogando a propriedade pública ou colectiva e administração dos meios de produção e distribuição de bens e de uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades/meios para todos os indivíduos com um método mais igualitário de compensação.( Newman, Michael. (2005) Socialism: A Very Short Introduction, Oxford University Press.).
A recente lei que permite os casamentos homossexuais não é mais do que a procura de atingir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades, i.e., sem discriminações religiosas, étnicas, económicas, sociais, sexuais, etc.

Toda a doutrina recente da ICAR – expressa através das encíclicas papais - condena de modo directo (ou velado) o Socialismo. São exemplos destas condenações as encíclicas publicadas desde Pio IX, Qui pluribus, 1846 e Nostis et Nobiscum, 1849; nas alocuções Quibus quantiaque, 1849 e Singulari quandam, 1854; e na encíclica Quanto conficiemur, 1863…
O seu sucessor, Leão XIII, em 1878, dirigiu ao mundo uma encíclica escrita especialmente contra os diversos movimentos socialistas que se propagavam na Europa. Referindo-se ao socialismo, Leão XIII qualifica-o nesta lapidar frase: “peste proveniente de miasmas”....
E, poderíamos continuar a citar múltiplos exemplos de produção teológica contra o Socialismo que tem seguido uma linha de continuidade, até aos nossos dias.
Bento XVI, por exemplo, poderá ser exibido como um modelo exemplar de carrasco da “Teologia da Libertação”, amplo movimento católico transnacional, independente de formações partidárias mas que, na praxis, mais se aproximou da doutrina social socialista.

Sabendo que nenhuma destas encíclicas foi revogada, não quererá Isilda Pegado, promover na comunidade cristã mundial um referendo que compatibilize a sua crença cristã com o Socialismo?

Ou, porque não quer a dita Senhora entender que o Socialismo - que tem como um dos pilares a existência de uma sociedade com inteira liberdade religiosa - não pode conter no seu interior tendências religiosas, com idoneidade para opinar sobre questões políticas ou direitos individuais?

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