HAITI - Memórias e Reflexões sobre Lisboa e Voltaire…
O catastrófico drama que se vive hoje em Haiti fez-me recordar o devastador terramoto de Lisboa de 1755.
A tragédia de Lisboa abalou os meios filosóficos europeus. O terramoto atingiu profundamente as concepções do Mundo – vigentes na época – e impressionou de modo profundo Voltaire.
O fenómeno natural ocorrido “não cabia” na doutrina criacionista então vigente na Europa.
Voltaire sofre uma profunda desilusão e reage violentamente usando, como instrumento, a literatura. Socorre-se da obra “Cândido” uma comédia romântica e abre, na época, uma tensa (e intensa) controvérsia filosófica em que a ICAR é o alvo central.
Defende que só os ingénuos, ou os incautos, podem continuar a acreditar que a Humanidade habita um “Mundo de Bem, regido pela misericórdia divina…
A Igreja respondeu, prontamente, a este questionar da essência divina da matriz criacionista, em directo choque com as verdades bíblicas.
Os sábios de então (ainda hoje sobrevivem por aí alguns…) discutiam o meio eficaz para prevenir a ruína da cidade. A Universidade de Coimbra encontrou a solução. Resolveu organizar um espectacular e cerimonioso auto-de-fé, como panaceia para enfrentar as telúricas manifestações da natureza.
O Haiti, felizmente, está livre deste tipo de exorcismo, embora existam incríveis reminiscências como a do clérigo evangelista norte-americano Pat Roberson que julga estar o Haiti a ser vítima de uma “maldição divina”, subsidiária de fantasmagórico “pacto com o demónio”, orquestrado em ritos vudu.
O sismo que destruiu o Haiti seria, deste modo, uma punição divina do levantamento de escravos do 1º. de Janeiro de 1791, contra a colonização francesa e que conduziu ao nascimento do primeiro País independente da América Latina.
Persistem, ainda, na cabeça de “visionários”, ódios ancestrais que nem as catástrofes – naturais e humanas – conseguem resolver (ou dissolver).
Ou, então, homens que erraram na profissão, i.e., em vez de clérigos evangelistas com projecção mediática, deviam ser charlatães encartados do tipo dos videntes e especuladores “astrólogos” que, diariamente, enxameiam as páginas de anúncios da nossa Imprensa..
Comentários
Qual a desculpa... Mister Pat???
Trata-se de um lapsus teclae que de imediato vou corrigir.
De qualquer modo, agradecido pela observação.