A SENSIBILIDADE CATÓLICA DE ULRICH
O incontinente banqueiro Ulrich, questionado há dias acerca das bojardas que bolçou sobre os sem-abrigo, manteve o que disse, e afirmou que não recebia lições de sensibilidade de ninguém, pois lhe bastavam as que tinha recebido da sua família e da Igreja Católica.
Eu bem tinha desconfiado que andava ali o dedo da Igreja Católica. É que já é sobejamente conhecida a “sensibilidade” que esta instila nos seus mais diletos discípulos. Católico, ex-seminarista e abençoado pela Santa Igreja era Salazar, como católicos eram quase todos os seus ministros e os seus piedosos diretores da Pide; e que sensibilidade eles tinham!
Católico deve ser também o ministro Gaspar – até fez os seus estudos na Universidade Católica (que belas doutrinas económicas lá ensinam!) –, o maior produtor de sem-abrigo, de desempregados, de pobres e de miseráveis de que há memória. Católico é também o próprio chefe do bando, Passos Coelho, que, roubando o emprego a dezenas de milhares de pais e mães de família, tirando o pão a milhares de crianças, reduzindo as miseráveis pensões dos idosos pobres, tem o descaramento de dizer publicamente que apesar disso “dorme descansado”. Que sensibilidade!
Católicas são também a maior parte das “almas piedosas” que querem acabar com o Serviço Nacional de Saúde e com o ensino público e gratuito, únicos recursos dos que não têm dinheiro para pagar clínicas privadas e escolas particulares.
Isto para já não falar da “sensibilidade” da Santa Inquisição, que felizmente já acabou há muito tempo, mas apenas porque os incréus, contra a vontade da Igreja, deram cabo dela.
Não há dúvida: o catolicismo, em matéria de “sensibilidade”, tem pergaminhos. Ulrich teve boa escola!
Comentários
Tomei a liberdade de o reproduzir em
http://www.diariodeunsateus.net/
No caso Ulrich tenta passar-se a imagem de que Governo não está a levar a austeridade aos níveis que os banqueiros acham adequados, prejudicando-os.
No caso de Ricardo Salgado de que o Governo trata os banqueiros de uma forma igual à dos outros cidadãos contribuintes, sem privilégios. Quando um banqueiro prevarica é logo chamado à pedra.
Os jornalistas, ao tratarem estas matérias sob a forma de produção de contraditórios, estão só a contribuir para ampliar uma campanha publicitária habilmente posta em marcha pelos gestores de imagem dos banqueiros (os jornalistas chamarem-nos mentirosos é preferível do que ficarem silenciosos).
A referida maioria sabe que um banqueiro que pertence a uma família que já era riquíssima nas três ou mais gerações anteriores não tem qualquer espécie de sensibilidade relativamente ao sofrimento dos pobres e sabe que os bancos são as empresas mais bem posicionadas para pagar menos impostos que o comum dos cidadãos (as questões de IRS são trocos).
A campanha publicitária pretende diminuir estes sentimentos negativos que habitam o coração dos eleitores. Sim, dos eleitores, pois os banqueiros consideram-nos seus dependentes, como no tempo do feudalismo.