Bichas e filas – hábitos e preconceitos, para sorrir
Que raio de ideia a de evitar a palavra bicha, apenas pela conotação brasileira!
Recuso-me a recorrer ao dicionário e não me submeterei à pressão da opinião pública. Sempre compreendi as filas no sentido horizontal e as bichas na perpendicular. Assim me refiro sempre às filas de cadeiras onde me sento para ver cinema ou teatro.
Nunca me atreveria a dizer que só tinha encontrado bilhetes para a bicha A ou Z. Nem me passaria pela cabeça dizer que os soldados se perbicham antes de apresentarem armas. Na tropa progride-se em bicha de pirilau para evitar que o inimigo dizime muitos homens com uma só bala. Temo que passe a chamar-se fila de pirilau, embora eu não saiba ao certo o que é o pirilau.
E que dizer das bichas que um sargento exibe após a promoção? Gabam-se-lhe as filas amarelas?
As sanguessugas com que se sangravam os pacientes nunca foram tratadas por filas.
Já quanto às bichas de carros que impedem a minha progressão na estrada, nunca lhes chamarei filas. Agora, por medo da censura alheia, havia de passar a dizer que estive numa fila da autoestrada, por causa de um acidente? Até à gata do vizinho teria de mudar o nome. Para não dizer que o pelo nas escadas ou o xixi do tapete foi obra da fila, seria obrigado a tratá-la por Tareca.
Quando era criança tomei um remédio para as bichas. Nunca ouvi chamar-lhe remédio para as filas nem alguém ousou responsabilizar a fila solitária pelo apetite de alguém.
Não acham ridículo que um genro, farto de aturar a sogra, se lhe refira, num misto de desespero e de raiva, tratando-a por aquela fila!?
Qualquer dia, em vez de saúde e bichas, que é a forma familiar de substituir a expressão “cura ut valeas”, em latim, no final de cada email, seria obrigado a mudar para “saúde e filas”.
Não queriam mais nada! Rebichem à vontade. EU continuarei a refilar na bicha da EDP.
Comentários
Ou seria uma fila? Ele falou em inglês...
Se não fosse esta ironia de luxo, o que seria da puta da nossa vida!