CRÓNICA DE DUAS MORTES ANUNCIADAS
Noticiou ontem a TVI que nos últimos três dias se suicidaram no Porto dois pequenos empresários da restauração, por não terem possibilidades de fazer face aos seus compromissos e se verem na iminência de terem de encerrar os seus estabelecimentos. Ouvidos vários outros empresários do ramo, todos concordaram em que as dificuldades que os levaram a esse ato extremo resultaram das medidas do governo para o setor, designadamente da desastrada subida da taxa do IVA da restauração de 13 para 23%.
Na notícia foi dito também que nos últimos meses sete empresários da restauração algarvios fizeram o mesmo pelas mesmas razões, e que em 2012 encerraram 11.000 restaurantes, lançando no desemprego 37.000 trabalhadores.
Nada que não se esperasse. A “fatwa” contra esses empresários já havia sido lançada pela coligação governante, em pleno Parlamento, pelas bocas dos deputados Hélder Amaral, do CDS, e Virgílio Macedo, do PPD, que declararam que há em Portugal estabelecimentos de restauração a mais.
Aqueles dois empresários estavam pois “a mais”.
Possivelmente, durante várias décadas não estiveram a mais, e os seus estabelecimentos foram o ganha-pão das suas famílias e das várias famílias dos seus empregados. Mas, com a política de “ajustamento” que este governo vem aplicando – com os resultados que estão à vista – para tornar a nossa economia “mais competitiva”, ficaram a mais. Não eram “competitivos”.
Na ótica do primeiro-ministro, estes dois empresários eram uns “piegas”. Pois se, como disse esse pilar do sistema financeiro que é o competitivo banqueiro Ulrich, “até os sem-abrigo aguentam” eles também podiam ter “aguentado”.
Mas não aguentaram. Mataram-se.
Agora já não estão a mais.
O país, sem eles, ficou mais “ajustado”.
Entretanto Passos Coelho, como ele próprio publicamente confessa, “dorme descansado”.
Na notícia foi dito também que nos últimos meses sete empresários da restauração algarvios fizeram o mesmo pelas mesmas razões, e que em 2012 encerraram 11.000 restaurantes, lançando no desemprego 37.000 trabalhadores.
Nada que não se esperasse. A “fatwa” contra esses empresários já havia sido lançada pela coligação governante, em pleno Parlamento, pelas bocas dos deputados Hélder Amaral, do CDS, e Virgílio Macedo, do PPD, que declararam que há em Portugal estabelecimentos de restauração a mais.
Aqueles dois empresários estavam pois “a mais”.
Possivelmente, durante várias décadas não estiveram a mais, e os seus estabelecimentos foram o ganha-pão das suas famílias e das várias famílias dos seus empregados. Mas, com a política de “ajustamento” que este governo vem aplicando – com os resultados que estão à vista – para tornar a nossa economia “mais competitiva”, ficaram a mais. Não eram “competitivos”.
Na ótica do primeiro-ministro, estes dois empresários eram uns “piegas”. Pois se, como disse esse pilar do sistema financeiro que é o competitivo banqueiro Ulrich, “até os sem-abrigo aguentam” eles também podiam ter “aguentado”.
Mas não aguentaram. Mataram-se.
Agora já não estão a mais.
O país, sem eles, ficou mais “ajustado”.
Entretanto Passos Coelho, como ele próprio publicamente confessa, “dorme descansado”.
Comentários
Segue-se uma espécie de 'limpeza étnico-financeira' , subsidiária do neoliberalismo (selvagem), de que os casos relatados são um desgraçado e dramático exemplo. Segundo creio a dignidade humana e a consciência cívica não vão permitir que os 'responsáveis' por esta barbárie continuem a 'dormir descansados', por muito tempo...
Parabéns, AHP.