ULRICH e a embriaguez do ‘espírito clochard’…

O banqueiro Fernando Ulrich tem uma visão ‘particular’ da actual crise.
Pertencerá - por ventura - a um peregrino clã de pensadores e analistas políticos (os banqueiros portugueses entraram nesta via) que insiste em aparecer para discorrer sobre um novo e bizarro modelo de estar na sociedade: o ‘aguentismo’. link.
Há cerca de 3 meses, o mesmo senhor, já tinha esboçado a esquizofrénica teoria do: Aguenta? Ai aguenta, aguenta! link
Na altura, o dislate pareceu uma infeliz ‘escorregadela’. Hoje sabemos que é uma ‘visão’ ou, se calhar, uma 'missão'.
Todavia, enquadrando melhor esta facção financeira 'pensante e doutrinadora', que no passado optou por aliar a influência à discrição, concluímos que, agora, salta para a rua, e pretende dar continuidade a um macabro ideário já expendido por uns seus lídimos precursores que andam impunemente por aí e sempre que desfrutam de uma oportunidade aparecem, aqui e acolá, apontando o dedo, a martelar: "viveram acima das suas possibilidades”!.

Ulrich e todos estes ‘precursores’ oriundos ou ligados ao 'mundo empresarial e/ou financeiro' - hoje representados no Governo - são farinha do mesmo saco.

Marginalização, descriminação e exclusão são, para estas cabeças, fatalidades ou, então, ‘castigos’ redentores criados para expiar penas. Em resumo, os imponderáveis ‘acidentes de percurso’ - mesmo que injustos e indignos - devem ser aceites com humildade e conformismo. Os desempregados, os precários e os reformados devem associar-se aos trabalhadores de baixos salários – essa crescente e ignóbil ‘mancha de pobreza’ - criando uma legião de clochards (clodo, em calão) que, capazes aguentar tudo (incluindo a pesporrência dos banqueiros), passem a viver de caridosas esmolas, a dinamizar os prédios devolutos (‘squats’), a animar a movida do ‘debaixo da ponte’ e a dedicar-se a ‘lúdicos’ divertimentos como o alcoolismo, a prostituição, a droga e o roubo.

Para este banqueiro a pobreza deve ser permanentemente confrontada com vergonha de ‘não-aguentar’, i. e., com o opróbrio ser tomado com um ‘fraco’ que sucumbe perante a agruras da vida.

Ulrich, no seu enviesado linguajar, considerará – é só aguardarmos a próxima apresentação dos resultados do seu banco [*] - inqualificável a falta de resiliência (um termo do mundo financeiro) dos carenciados e excluídos, e por outro lado, exaltará a visão de que ‘a pobreza será a (grande e natural) oportunidade para enriquecer’, enquanto os ricos só poderão aspirar a ficar ‘mais ricos’.

E, nesta senda, ficamos à espera de outras doutrinações de tipo mais piedoso, p. exº.: “a pobreza permite aos atingidos (e que aguentam) a penitente salvação da sua ‘alma’ e aos ricos o conforto e a satisfação de ‘esmolar’”.
Por quanto tempo mais ‘aguentaremos’ estas prédicas?

[*] – O BPI - presidido por Fernado Ulrich - em situação de perda de resiliência não optou pelo ‘venerável e libertador’ caminho da austeridade e da pobreza. Não ‘aguentando’ as exigências da Autoridade Bancária Europeia (EBA) preferiu não enveredar num percurso ‘sem abrigo’. Optou pela recapitalização indo buscar 1,5 mil milhões de euros em obrigações convertíveis subscritas pelo Estado. link

Comentários

A particularidade deste banqueiro é que, não devendo ser muito esperto - a não ser para fazer contas! - diz em voz alta o que os outros banqueiros pensam mas têm a prudência de não dizer.
Eu já encomendei uma manta, que oferecerei ao senhor Ulrich, no caso ele ter de vir dormir todas as noites, debaixo das arcadas dos prédios da avenida Almirante Reis.O almocinho está garantido, na sopa dos pobres, ali perto, aos Anjos. Eu julgo que ele vai aguentar! É que ele aguenta tudo!

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