Humor ou talvez não


Longe vão os tempos em que um médico português vaiado no estrangeiro por demorar três horas na extração de um dente – segundo a comunicação científica que fazia – acabou com a plateia a aplaudi-lo de pé, depois de informada de que em Portugal não se podia abrir a boca.

Era no tempo em que o eterno ditador de serviço conseguia bater os especialistas a estabelecer a idade das múmias que eram encontradas no Egipto dos faraós. Bastava-lhe entregá-las à PIDE que elas acabavam por confessar.

Era quando um pobre bêbado que acabara de desabafar “que merda de País este...” encontrava logo um esbirro que o prendia. Depois de lhe ter jurado que se referia a Cuba, quando já recuperara a liberdade, o mesmo esbirro vinha de novo prendê-lo com o argumento, aliás respeitável, de que “merda de país” só podia ser o nosso.

Os métodos anticoncecionais que a Igreja e o Estado então consentiam reduziam-se à castidade e a atirar pedras às cegonhas, espécie de intifada contra a explosão demográfica. E ensinava-se que a Igreja era a nossa mãe e Salazar o pai, num país ansioso por ficar órfão de pai e mãe.

Ser patriota – diziam – era amar a pátria, do Minho a Timor. Não se contentavam com o amor à nossa, exigiam que amássemos também a pátria dos outros.

Admiravam-se então que a Suíça, sem costa marítima, pudesse ter um ministério da Marinha sem se darem conta que nós próprios tínhamos um ministério da Educação.

Vão longe os tempos mas voltaram de novo os tiques autoritários. Há no ar uma atmosfera que prenuncia um regresso. Postergam-se os interesses coletivos para atender caprichos particulares, vergam-se as consciências ao peso dos interesses, sepultam-se os princípios nos terrenos onde floresce o medo e medra a ambição.

Há outra vez um país do futebol onde os senhores da bola viram dirigentes políticos enquanto ao som do fado se vai de novo a Fátima à espera de um milagre.

Mas, para além dos três efes tradicionais que regressaram à sociedade há a certeza de outro efe cuja dimensão obscena nos esmaga.

Longe vá o agoiro. Para fritar bastava o cherne que emigrou para Bruxelas à espera de vir habitar o Palácio de Belém.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Era também o tempo em que os próximos do ditador lhe sugeriram que se emitisse um selo de correio com a imagem dele, mas ele recusou alegando que "eles depois podem cuspir também na face da frente do selo"...
Exatamente!!! Ahahahah!!!!! É bom lembrar as histórias antigas e dar-lhes a sintaxe que lhes falta :)
e-pá! disse…
Pegando no último parágrafo do post, relativo a Durão Barroso, julgo que o recente relatório "CIA Secret Detention and Extraordinary Rendition" abre caminho ao desmascarar do compromisso (político) desse senhor com os voos da CIA em Portugal que, tratando-se de uma grosseira violação dos Direitos Humanos, tudo foi feito para o ocultar.
O assunto estará na ordem do dia internacional (cá dentro a ser investigado pela PGR) e poderá estragar-lhe o currículo político tão engenhosamente e insidiosamente construído...à volta do seu incondicional apoio a G. W. Bush, na guerra do Iraque.
JotaB disse…
Parece-me importante divulgar esta iniciativa, como todas as outras que visem acabar com o saque perpetrado por esta classe política e seus apaniguados!

temos que unir forças
http://www.youtube.com/watch?v=EL-6MrPt66c

cerco ao parlamento
http://www.youtube.com/watch?v=tLJPiHTV1ko

juntos vamos vencer
http://www.youtube.com/watch?v=dq5qdBFqMEQ

CERCO AO PARLAMENTO
http://www.facebook.com/events/226642520804441/
Atiz disse…
Peço desculpa pelo atrevimento! Mas gostaria de dar aqui uma opinião acerca do texto. quando escreve que aparecem de novo sinais da ditadura e refere os tres "efes", relembro que os estádios de futebol mal amanhados, caros, vazios, enfim inúteis, datam de um momento bem anterior ao atual. E quanto ao fado, parece-me que esse género musical já sofreu tudo o que tinha a sofreu, pela ligação (injusta ou não) ao antigo regime. A música não é de nenhum governo, é do povo e de quem a quiser apreciar.
Como declaração de interesse, não sou fadista, nem conheço nenhum pessoal, não perco tempo, nem dinheiro a ver futebol e também acredito que há tiques de autoritarismo, como refere, mas, infelizmente, parece que alguns que partem dos próprios individuos que tendem a acreditar que a democracia nada mais deve ser que a ditadura da maioria!
Atiz:

Limito-me a agradecer o seu comentário no Ponte Europa, um blogue sem censura nem preconceitos.

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