Ainda as eleições europeias

Depois do fracasso das receitas neoliberais, da tragédia nos mercados financeiros, do desastre na economia, da catástrofe social e da desorientação política, os EUA puniram os responsáveis e elegeram Barack Obama. Depois da invasão do Iraque, com base em mentiras e ao arrepio do direito internacional, execraram Bush e varreram os neocons da cena política americana.

Na Europa, se estivesse prevista a permissão de um terceiro mandato, Bush obteria nova vitória. Os seus apoiantes saíram vitoriosos dos escândalos internos e da conivência na tragédia do Iraque.

Os partidos conservadores e liberais aumentaram a representação na União Europeia.

Em Espanha, Rajoy viu a Audiência Nacional perseguir Baltazar Garzón, por abrir valas comuns onde jazem os esqueletos dos assassinados pelo franquismo, resistiu ileso às prisões de numerosos autarcas por corrupção, às tropelias de Esperanza Aguirre a espiar os adversários internos do PP e, até, à herança de Aznar. Ganhou as eleições.

Na Itália, o inefável Berlusconi fez leis à medida das suas necessidades, fez das suas vivendas bordéis, apropriou-se do aparelho do Estado e «frequentou menores», segundo acusações da mulher e sussurros dos santos cardeais do Vaticano. Ganhou as eleições.

Na França, Alemanha, Áustria e Polónia os apoiantes da invasão do Iraque e os que defenderam receitas liberais… ganharam as eleições.

Só a Inglaterra parece ter feito justiça mas, desgraçadamente, premiou os eurocépticos que são a única alternativa.

Bush venceu na Europa enquanto os europeus, na falta de um Obama, reincidem em Barroso.

Ponte Europa/SORUMBÁTICO

Comentários

andrepereira disse…
Os orgulhosos europeus não passam deram prova da sua arrogância e cegueira. Mas a culpa é do Partido Socialista Europeu: deveria ter apresentado um candidato a Presidente da Comissão (Rasmussen ou Felipe Gonzalez), deveria ter um programa comum aos 27 Estados, transformando as eleições verdadeiramente europeias, deveriam ter falado claro sobre o repúdio à guerra e ao desequilíbrio entre os rendimentos do capital e do trabalho desde os anos 80. Deveriam ser portadores de uma esperança para uma economia social de mercado, nos direitos dos cidadãos. O PSE não está a conseguir construir uma mensagem e pode vir a tornar-se um médio partido, do campeonato dos liberais, deixando aos Populares e aos anti-sistema o verdadeiro palco da disputa eleitoral. Os sinais são preocupantes: do Reino Unido, à França, Áustria e Alemanha, República Checa e Polónia... em tantos países vemos o PSE na casa dos 20% e os anti-sistema (sejam de extrema-direita, sejam de extrema-esquerda) na casa dos 20 a 30%, competindo directamente com os conservadores e populares. A culpa está na perda de rumo a que se assistiu nos anos 90 e a falta de um discurso galvanizador.
Não esqueçamos que, antes de o 'bushismo' ser corrido, Bush ainda foi reeleito. E, se na 1ª eleição houve dúvidas, tal não sucedeu na 2ª. Estão em causa fenómenos e tomadas de consciência política que, por serem à escala de um continente, levam tempo - por vezes MUITO tempo.

Além disso, a diferença entre Bush e Obama era abissal (a começar pelo aspecto mais importante: prosseguir ou acabar com a guerra no Iraque), muito mais do que aquelas existentes entre os "PS' e os 'PSD' europeus. Pergunte-se ao eleitor-médio português se vê diferenças DE FUNDO entre Sócrates e Ferreira Leite, e ouvir-se-á a resposta que se sabe...

A outra forma de ver o que se passou na Europa está referida por Alfredo Barroso [aqui]:
.
«Quando queremos parecer-nos de tal modo com os nossos adversários políticos que nos confundimos com eles, é certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, os eleitores que nos contemplam acabam por preferir os originais às imitações, ou, pura e simplesmente, repudiam os originais e as cópias, por indecente e má figura, optando pelos extremos (...)»
... Bem, e quando o PS português apoia oficialmente Durão Barroso (sim, o da foto!), o que é que se espera?!
CMR:

Tenho algumas divergências sobre a sua análise e a de Alfredo Barroso.

Por eleições (a única forma que aceitamos de conquista do poder), onde foi possível [na Europa] governar com uma esquerda digna desse nome?

Na América do Sul tem havido tentativas honestas mas nem sempre convincentes, como no caso da Venezuela.

Espero vir a fazer uma reflexão sobre os limites da esquerda possível na Europa.
Unknown disse…
O Obama é de esquerda?!
A esquerda "digna desse nome" é a esquerda de Sócrates, de Guterres?
"Cegueira"? Li "cegueira"? A cura para a "cegueira" é rabiscar uma cruzinha nessa esquerda? Eureka, nessa caso! A cura para a miopia também está contemplada na terapia? Quem não vota nos Ps´s deste mundo é "cego" e "arrogante"?
"A falta de um discurso galvanizador"? Ora aí está uma receita interessante para os males que nos assolam, um discurso cheio de pompa!
É certo que "o Bush obteria novo mandato" nesta europa?
Deixo aqui estas questões.
polytikan disse…
Para que precisa a Europa de um Obama quando tem cartoons como Berlusconi, Sarkozy, Durão Barroso...
e-pá! disse…
A grande diferença entre Barack Obama e os múltiplos dirigentes europeus que, por aqui, pululam, será o facto do presidente dos States ser, ainda, ouvido pelo Mundo...
Tivemos a prova disso a quando do recente discurso do Cairo.

Mas, 2 questões levantam-se:

- Por quanto tempo?

- e, porque razão?

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