Cavaco e o fim da legislatura governativa
Já sem poder demitir o Governo, com uma agressividade que se habituara a conter, o PR está a procurar condicioná-lo com tomadas de posição públicas que, por coincidência, se sobrepõem às do PSD.
Não lhe faltando legitimidade para o exercício das funções, como poderá Sócrates ser julgado eleitoralmente se interromper, sob coacção ilegítima, o seu programa e os projectos anunciados? O Governo foi punido em eleições europeias mas não cabe ao PR antecipar o julgamento das legislativas nem condicionar os resultados eleitorais a favor de qualquer formação partidária com que eventualmente se identifique.
No 10 de Junho, após a sorumbática homenagem a Salgueiro Maia, ditada pelo remorso, oportunismo ou vergonha, criticou os gastos do Estado, o que foi entendido como crítica aos projectos de obras públicas com que o Governo procura desesperadamente reanimar a economia e reduzir o desemprego. Não o favorece a sintonia com o PSD.
Os ataques aos políticos são perigosos e inadmissíveis num político que ocupa a função mais elevada na hierarquia do Estado na sequência do mandato que os portugueses lhe outorgaram e que gostariam de o ver acabar com dignidade. A ofensa também atinge o PR.
Humilhado no Estatuto dos Açores, onde tinha razão, conseguiu a unanimidade da AR contra si e descurou, como devia, a obrigação de recorrer ao Tribunal Constitucional. Conseguiu agora, na lei do financiamento dos partidos, que o PSD, após o veto, desse o dito por não dito, numa lei com um único voto contra, de António José Seguro, do PS.
O hábito de condenar a AR, primeiro, e o Governo, depois, tornam Cavaco vulnerável. Se como cidadão tem o direito de discordar, a ingerência do PR na luta partidária, pelo menos aparente, liga o seu futuro político ao destino imediato do PSD, um partido com nome de esquerda e tradição de direita, agora sem programa e objectivos conhecidos.
Cavaco ganhou, de facto, as eleições europeias, graças ao inesperado Paulo Rangel, mas é cedo para a euforia da visita à Capadócia ou a depressão com que declarou aos portugueses ter perdido, ele e a família, muito dinheiro em bancos pouco recomendáveis.
Não lhe faltando legitimidade para o exercício das funções, como poderá Sócrates ser julgado eleitoralmente se interromper, sob coacção ilegítima, o seu programa e os projectos anunciados? O Governo foi punido em eleições europeias mas não cabe ao PR antecipar o julgamento das legislativas nem condicionar os resultados eleitorais a favor de qualquer formação partidária com que eventualmente se identifique.
No 10 de Junho, após a sorumbática homenagem a Salgueiro Maia, ditada pelo remorso, oportunismo ou vergonha, criticou os gastos do Estado, o que foi entendido como crítica aos projectos de obras públicas com que o Governo procura desesperadamente reanimar a economia e reduzir o desemprego. Não o favorece a sintonia com o PSD.
Os ataques aos políticos são perigosos e inadmissíveis num político que ocupa a função mais elevada na hierarquia do Estado na sequência do mandato que os portugueses lhe outorgaram e que gostariam de o ver acabar com dignidade. A ofensa também atinge o PR.
Humilhado no Estatuto dos Açores, onde tinha razão, conseguiu a unanimidade da AR contra si e descurou, como devia, a obrigação de recorrer ao Tribunal Constitucional. Conseguiu agora, na lei do financiamento dos partidos, que o PSD, após o veto, desse o dito por não dito, numa lei com um único voto contra, de António José Seguro, do PS.
O hábito de condenar a AR, primeiro, e o Governo, depois, tornam Cavaco vulnerável. Se como cidadão tem o direito de discordar, a ingerência do PR na luta partidária, pelo menos aparente, liga o seu futuro político ao destino imediato do PSD, um partido com nome de esquerda e tradição de direita, agora sem programa e objectivos conhecidos.
Cavaco ganhou, de facto, as eleições europeias, graças ao inesperado Paulo Rangel, mas é cedo para a euforia da visita à Capadócia ou a depressão com que declarou aos portugueses ter perdido, ele e a família, muito dinheiro em bancos pouco recomendáveis.
Ponte Europa / SORUMBÁTICO
Comentários
Não posso estar de acordo!
Formalmente, foi mais um dos "grandes perdedores", apesar do esforço e da frenética animação de Rangel.
É que, como é sabido, não devendo estar directamente envolvido nestas eleições a sua participação centrava-se no apelo à votação, i. e., à participação cívica, no empenho contra a abstenção.
Os valores da abstenção atingidos - 63,5% dos eleitores não foram às urnas - mostram, como voltou a afirmar, no 10 de Junho, que "a abstenção deve fazer reflectir os agentes políticos".
Foi o que a classe política começou a fazer, com o CDS/PP (já na noite eleitoral) com desenxabida ameaça de moção de censura, para a qual veio a obter, mais tarde, o apoio do PDS.
Depois o PSD ofende-se quando é acusado de praticar uma política de "bota-abaixo". Na realidade, o PSD teve a oportunidade soberana de isolar o CDS, deixando-o curtir a sua fanfarronice anti-sondagens. Não soube aproveitar. Ontem, o CDS fez as "honras" (...poucas, para falar a verdade) da Direita. Foi no que deu.
Quando a Cavaco Silva, os resultados de 7 de Junho, fazem-nos inquirir se os portugueses reflectem ou ouvem os seus apelos ou, se as imprecações dos políticos, caiem em "saco roto"...
Lentamente, as intervenções avulsas, i. e., sem trabalho prévio credível e sem um a linha condutora coerente, encaminhada numa direcção mobilizadora e consensual, sem um rumo que seja nacional e congregador (como competia ao PR), acabam gerando efeitos inversos aos esperados.
De facto os políticos devem reflectir sobre a elevada abstenção. Mas não vale a pena inventar razões. A pariticipação cívica dos portugueses, a suas motivações para um pleno exercício de cidadania estão em queda.
E aqui os políticos, incluindo o PR, devem interrogar-se sobre os passos errados dados, que provocaram tal reacção. Se a UE apareceu junto dos cidadãos durante o sufoco que a crise económica e finaceira foi gerando.
Onde está a "Europa dos Povos"? Submersa pela "Europa das Nações"?
Muitas perguntas possíveis... Deixemos o trabalho aos políticos!
Porque, como dizia alguém, como podemos mudar de Povo, talvez seja mais fácil mudar de políticos...
Será, um pouco, como no futebol!
Um clássico caso de adiantado mental (ao contrário).
Tem uma agenda de modernização do país para cumprir, juntamente com a consolidação das reformas, em "coligação com o país". Boa!
Desarmou o PSD remetendo a decisão de adjudicação do TGV para o próximo governo. Aliás, as eleições poderão bem ser um referendo às novas obras públicas.
A grande batalha de Sócrates é contra a abstenção. Convencer os eleitores de que o futuro do país está nas mãos deles e que devem escolher.
Será difícil já que o elo de confiança entre o povo e os políticos atingiu níveis muito baixos. Mas, para além de possível, é isso que se exige a um grande político: liderar o interesse e a participação na coisa pública.
De resto, a mobilização nas legislativas e autárquicas é sempre maior, já que estão muitos lugares em disputa.
O que, nos tempos que correm, devia ser motivo mais do que suficiente para gerar uma grande participação!...
Para quem já não se coíbe de alinhar as suas posições pelas da sua predilecta Manuela Ferreira Leite, reincide em recados pela comunicação social aos outros órgãos de soberania e não tem em conta a reserva que as funções lhe impõem, acrescidas neste período pré-eleitoral, os resultados das eleições europeias foram, a meu ver, uma indiscutível vitória.
A abstenção era previsível e o apelo do PR sabia-se irrelevante. Não terá produzido qualquer voto ou abstenção.
Este PR não é propriamente um pensador e corre o risco de ser o primeiro que não obtém um segundo mandato. Por mérito próprio – refira-se.
Quanto ás pertinentes reflexões sobre a EU e a abstenção partilho a apreensão e a necessidade de alterar as coisas, sem conhecer uma receita convincente.
***
Em tempo. Quanto ao Mano 69:
Agradeço-lhe a sibilina reflexão a meu respeito: « Um clássico caso de adiantado mental (ao contrário)». São assim os espíritos renascentistas, finos no humor e nas maneiras.