Vasco Lourenço – do Interior da Revolução
Vasco Lourenço – do Interior da Revolução
Li a longa entrevista de Vasco Lourenço a Manuela Cruzeiro, publicada pela editora Âncora. É o testemunho vivo de um lídimo capitão de Abril à investigadora treinada a recolher os depoimentos com que se escreve a história do maior feito do século XX e do mais glorioso da história portuguesa ao serviço da Liberdade.
Percorri com Vasco Lourenço os trilhos de uma Revolução a que ele imprimiu o rumo e o ritmo, desde o tempo em que o seu entusiasmo contagiou os primeiros capitães, que rapidamente esqueceram uma reivindicação corporativa, para se lançarem na imparável aventura que conduziu ao 25 de Abril de 1974.
Vasco Lourenço conta na primeira pessoa, sem modéstia ou falso pudor, a liderança que assumiu no trio que formou com Otelo e Vítor Alves e a ousadia com que participou no derrube da ditadura. Marcelo deu-se conta do perigo que representava Vasco Lourenço e «deportou-o» para os Açores, retirando-o do comando operacional do 25 de Abril, o que lhe permitiu, após a queda, entregar a Spínola o poder que, com Vasco Lourenço em Lisboa, pertenceria a Costa Gomes, como o MFA decidira.
Depois é a saga de um tempo em que a liberdade e as ambições spinolistas conflituam e onde Vasco Lourenço se desdobra entre a liderança política e a militar, fazendo-se obedecer por generais, mantendo-se capitão, integrado no processo revolucionário em sintonia com o povo que viu na queda da ditadura a oportunidade de todas as utopias.
É do tempo de todas as paixões, quase sempre na crista da onda, que nos relata o que foi a sua luta pessoal em que contou com as fidelidades forjadas antes do 25 de Abril e com algumas traições que vieram depois, luta que se confundiu com a do povo português até ao 25 de Novembro, em que é ele, ainda, o comandante vitorioso a quem Eanes e Jaime Neves obedeceram.
O coronel Vasco Lourenço é o capitão de Abril que foi general, recusou as estrelas de brigadeiro e foi votado ao ostracismo em tenente-coronel. Sem ele a Revolução teria um percurso diferente e aconteceria depois. Com ele, Otelo e Vítor Alves, com a ilustração política de Melo Antunes e a sagacidade de Costa Gomes, foi possível pôr a coragem, o heroísmo e a abnegação de dezenas de capitães e de alguns distintos oficiais superiores ao serviço de Portugal e da mais bela e menos bélica de todas as Revoluções.
Com este livro, onde a frontalidade é a marca indelével, verão alguns a sua pusilanimidade e/ou oportunismo expostos no pelourinho da opinião pública mas não é esse o objectivo do autor.
Vasco Lourenço não fez sozinho o 25 de Abril nem utilizou o livro para se vingar das traições, hesitações e dúvidas dos que acabaram por confiscar em seu proveito o que os outros fizeram. Pelas 565 páginas passam muitos dos seus camaradas e, com uma ou outra excepção, lá está a galeria de heróis a quem devemos os 35 anos de democracia e a modernidade em que Portugal se integrou.
A leitura deste livro mostra o que se passou desde as primeiras reuniões conspirativas dos capitães até à aprovação da Constituição em 02 de Abril de 1976. Do 25 de Abril, do 28 de Setembro, do 11 de Março, do 25 de Novembro, das agitações a montante e a jusante, e das primeiras eleições livres, em meio século, ficamos a saber mais depois do fascinante relato do seu mais irreverente e empenhado protagonista.
Da comissão no horror da Guiné, da dignidade e coragem com que a cumpriu, até do êxito da captura de material de guerra ao PAIGC, e, sobretudo, da importância desse período na sua vida, também fala o capitão de Abril a sangrar por dentro e com fracturas expostas .
Obrigado, Vasco Lourenço, herói de Abril. Pela coragem e patriotismo. E também pelo livro «Vasco Lourenço – do Interior da Revolução».
Li a longa entrevista de Vasco Lourenço a Manuela Cruzeiro, publicada pela editora Âncora. É o testemunho vivo de um lídimo capitão de Abril à investigadora treinada a recolher os depoimentos com que se escreve a história do maior feito do século XX e do mais glorioso da história portuguesa ao serviço da Liberdade.
Percorri com Vasco Lourenço os trilhos de uma Revolução a que ele imprimiu o rumo e o ritmo, desde o tempo em que o seu entusiasmo contagiou os primeiros capitães, que rapidamente esqueceram uma reivindicação corporativa, para se lançarem na imparável aventura que conduziu ao 25 de Abril de 1974.
Vasco Lourenço conta na primeira pessoa, sem modéstia ou falso pudor, a liderança que assumiu no trio que formou com Otelo e Vítor Alves e a ousadia com que participou no derrube da ditadura. Marcelo deu-se conta do perigo que representava Vasco Lourenço e «deportou-o» para os Açores, retirando-o do comando operacional do 25 de Abril, o que lhe permitiu, após a queda, entregar a Spínola o poder que, com Vasco Lourenço em Lisboa, pertenceria a Costa Gomes, como o MFA decidira.
Depois é a saga de um tempo em que a liberdade e as ambições spinolistas conflituam e onde Vasco Lourenço se desdobra entre a liderança política e a militar, fazendo-se obedecer por generais, mantendo-se capitão, integrado no processo revolucionário em sintonia com o povo que viu na queda da ditadura a oportunidade de todas as utopias.
É do tempo de todas as paixões, quase sempre na crista da onda, que nos relata o que foi a sua luta pessoal em que contou com as fidelidades forjadas antes do 25 de Abril e com algumas traições que vieram depois, luta que se confundiu com a do povo português até ao 25 de Novembro, em que é ele, ainda, o comandante vitorioso a quem Eanes e Jaime Neves obedeceram.
O coronel Vasco Lourenço é o capitão de Abril que foi general, recusou as estrelas de brigadeiro e foi votado ao ostracismo em tenente-coronel. Sem ele a Revolução teria um percurso diferente e aconteceria depois. Com ele, Otelo e Vítor Alves, com a ilustração política de Melo Antunes e a sagacidade de Costa Gomes, foi possível pôr a coragem, o heroísmo e a abnegação de dezenas de capitães e de alguns distintos oficiais superiores ao serviço de Portugal e da mais bela e menos bélica de todas as Revoluções.
Com este livro, onde a frontalidade é a marca indelével, verão alguns a sua pusilanimidade e/ou oportunismo expostos no pelourinho da opinião pública mas não é esse o objectivo do autor.
Vasco Lourenço não fez sozinho o 25 de Abril nem utilizou o livro para se vingar das traições, hesitações e dúvidas dos que acabaram por confiscar em seu proveito o que os outros fizeram. Pelas 565 páginas passam muitos dos seus camaradas e, com uma ou outra excepção, lá está a galeria de heróis a quem devemos os 35 anos de democracia e a modernidade em que Portugal se integrou.
A leitura deste livro mostra o que se passou desde as primeiras reuniões conspirativas dos capitães até à aprovação da Constituição em 02 de Abril de 1976. Do 25 de Abril, do 28 de Setembro, do 11 de Março, do 25 de Novembro, das agitações a montante e a jusante, e das primeiras eleições livres, em meio século, ficamos a saber mais depois do fascinante relato do seu mais irreverente e empenhado protagonista.
Da comissão no horror da Guiné, da dignidade e coragem com que a cumpriu, até do êxito da captura de material de guerra ao PAIGC, e, sobretudo, da importância desse período na sua vida, também fala o capitão de Abril a sangrar por dentro e com fracturas expostas .
Obrigado, Vasco Lourenço, herói de Abril. Pela coragem e patriotismo. E também pelo livro «Vasco Lourenço – do Interior da Revolução».
Comentários