A situação política e a excursão do PR às Ilhas Selvagens

Dizer que Cavaco Silva não tem o perfil para PR é um truísmo banal tautologicamente demonstrado. Apontar-lhe a débil formação democrática e as insuficiências culturais é uma reincidência gratuita. O que é importante, aliado ao que se conhece do seu passado e, sobretudo, ao que se desconhece, é analisar a situação política a que conduziu o País.

É surpreendente a excursão às Ilhas Selvagens enquanto a situação política apodrece e a solução não pode surgir do quadro que ele próprio complicou. Deixemos aos psicólogos a análise comportamental do timoneiro do naufrágio nacional que acelerou.

Na confusa e hermética comunicação ao País emudeceu os partidos da coligação que apadrinhou no segundo mandato, depois de um discurso de vitória, em que exonerou o sentido de Estado, para exprimir o ódio e ressentimento que nutria pelo líder do PS.

Face ao descalabro a que, com a sua cumplicidade, o Governo conduziu Portugal,  quis comprometer o PS na delirante proposta em que humilha Paulo Portas, após o pedido de demissão irrevogável, obrigando-o a voltar ao Governo, convicto de que seria primeiro-ministro de facto; humilha Passos Coelho ao ignorar a remodelação que lhe apresentou; humilha o Governo fingindo não ter lido o documento importantíssimo – a carta em que o ministro Gaspar se demite afirmando o fracasso da sua política e a falta de liderança do Governo –, documento que desfaz a coligação e dá o pretexto a Portas para a traição que preparara, enquanto encenou a caricata posse de uma nova ministra das Finanças. E humilha o País, com um Governo a prazo, sem capacidade para cumprir a legislatura, o que apressa a sua desintegração e o desacredita perante as instâncias internacionais.

Tudo o que o PR podia fazer mal, fez pior e da pior maneira, ilustrando a lei de Murphy.

Cavaco conseguiu sozinho pôr em causa a liderança do PS, PSD e CDS enquanto o PCP começa a pensar substituir Jerónimo de Sousa que não se conteve a exibir  a sua prótese eleitoral – Os Verdes –, como instrumento para a infeliz moção de censura ao Governo.

Num país com o Governo e a maioria desfeitos, sem um PR respeitado, só faltava a este, no seu estertor, instabilizar os partidos e abrir neles a sucessão para novos líderes. Seria excelente se as condições políticas, económicas e sociais fossem outras.

Que melhor altura para ir às Ilhas Selvagens interpretar a mensagem das cagarras?

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

José Batista disse…
Olhem, e se fizéssemos uma petição para Cavaco Silva ficar nas Selvagens para sempre? O problema - o grande problema - é que ia perturbar a organização das cagarras!...

Para além de problemas temos também situações deveras curiosas, como a do partido "Os Verdes". Quando é que o partido "Os Verdes" foi a votos sozinho? Quantos votos teve aquele partido nas eleições a que se submeteu (!?)? Em que congresso ou de que modo foram eleitos ou escolhidos os seus líderes?
Pergunto por perguntar, nem sequer espero que me respondam. Mas gostaria de saber por que motivos é que os cidadãos não podem, enquanto cidadãos, eleger representantes que os representem mesmo...
Porém, concedo, isto decorre de as minhas "exigências" extravasarem os limites da nossa abençoada democracia.
Portanto, há que penalizar-me. Não resta outra hipótese.
José Batista:

O partido «Os Verdes» é uma prótese do PCP que não lhe acrescenta votos e impede o aparecimento de um partido ecologista, bem necessário.
Agostinho disse…
Prótese!!!
Não me parece que seja. Aquela senhora, que de verde não tem nada, a barregar quando lhe põem o microfone à frente, não auxilia o PC em nada: se anda coxo ainda fica pior com as peixeiradas para-lamentares.
Quanto ao guião do shakespeare luso, viu-se logo na apresentação que a inspirada comédia só poderia tratar-se de uma imprevisível tragédia.
Nem as excrescências oficiais com púlpito reservado nas TVs, sabem o que virá a ser o ato seguinte. Aliás, o que eles fazem é vender banha rançosa a troco de generosos honorários pagos pela populaça. Eles que sabem de tudo e de mais alguma coisa que formem um o tal governo de salvação nacional: primeiro-ministro, marcelo, ministro de estado, mendes, turismo, lopes... and so on.
Anónimo disse…
Carlosamigo

O Esperança, digo, A é sempre a última a morrer? Será? No caso vertente, a visita do "ocupas" do palácio de Belém às Selvagens, originou a esperança de que ele só tivesse tirado bilhete de ida.

Mas, não, tirou também de volta. Bilhete caro para uma visita diminuta: 160.000 € contra um dia e meio; mas que se há-de fazer? Pelo menos, para a propaganda circense, o Palhaço foi o primeiro PR (?) que dormiu nas Selvagens.

Pelo menos também, foi a oportunidade para as ilhas verem reconhecido oficialmente o seu nome: Selvagens. Na verdade, a comitiva que nelas pernoitou conferiu-lhes realmente o Cartão de Cidadão.

O grande culpado, o maior de todos, digo eu, da catastrófica situação em vamos sobrevivendo foi e é este Mínimo Magistrado da Nação. Exemplos - para quê?

Oxalá as pobres das cagarras não tenham sido contaminadas. Aqui, sim, aqui pode dizer: valha-lhes a esperança. a

Abç

Henrique

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