O mês de julho só traz incêndios

O calor abrasador que subitamente pôs fim ao mais longo e pluvioso inverno, trazia no ar a pungência da decomposição do Governo, mas o óbvio é sempre o mais imprevisto. A saída de Vítor Gaspar era uma inevitabilidade que até o PR notava. Só Passos Coelho, abúlico, a correr a maratona para a qual jamais teve, sequer, fato de treino, não se tinha apercebido da inevitabilidade.

Paulo Portas chegou pela primeira vez a n.º 2 do Governo, sem número 1. Com Durão Barroso tinha Manuela Ferreira Leite para que na ausência o PM não fosse substituído por um ministro do CDS que Jorge Sampaio não permitiu que fosse MNE. Com Santana Lopes, o seu nome lá vinha em terceiro lugar, depois de Álvaro Barreto. Com Passos Coelho e a indulgência do PR de serviço, teve o lugar no Palácio das Necessidades mas o ministro Gaspar interpunha-se na hierarquia governamental.

Finalmente, neste lancinante ocaso do Governo e, quiçá, do país, Paulo Portas passará a promover o computador Magalhães na qualidade de número 2 de um infausto Governo cuja decomposição se deve a Cavaco Silva, rápido a vingar-se dos adversários e lento a tomar decisões patrióticas.

A carta de Vítor Gaspar é um modelo de ironia. A despedida com um agradecimento ao «enorme e inestimável apoio» que o PM lhe prestou, toca o sarcasmo com a «amizade, lealdade e admiração» com que se despede.

Vítor Gaspar saiu mais depressa do que falava e a equivalência que faltava à professora de Passos Coelho para ministra das Finanças chegou com o desmentido de Teixeira dos Santos, confirmado de forma eticamente reprovável, por tardia, sobre a alegada omissão do anterior Governo relativa aos  contratos de «swap», pelo próprio Vítor Gaspar.

Não é o odor pestilento da putrefação deste Governo, a irritar as pituitárias, que assusta. É a irrelevância do PR e do PM numa Europa sem rumo, programa ou liderança.

Comentários

Bmonteiro disse…
Tenho alguma tendência a traduzir os comportamentos pessoais, sob uma perspectiva psicológica.
Com este dia, para três dos envolvidos, a configurar
o resultado do Triunfo dos Palhaços.
Capazes de tudo, para arruinar um país.
Todos bem uns para os outros,
para desgraça da plebe.
Com dois "reformados" nos dois primeiros lugares do protocolo de Estado, que estávamos à espera?

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