O ‘filme’…

É suposto, ou melhor é certo e sabido, que o último acordo entre os dois partidos da maioria governamental para fazer face à presente crise política terá sido ditado por Belém. Todavia, foi proferida pelo primeiro-ministro, ainda em exercício, uma frase - Berlim foi o seu cenário (tinha de ser) - que se tornou fundamental para ‘entrar’ no âmago do presente conflito político-partidário: “…não se demite do cargo porque os portugueses querem ver o filme até ao fim…" link

O ‘filme’ será melhor caracterizá-lo como uma ‘série de terror’ tem necessariamente um guião. Durante a última semana foram sugeridos vários mas a revisita factual mostra-nos:

Passos Coelho acossado pelos desenvolvimentos políticos que puseram a nu o implacável desmoronar do Governo, na sequência de sucessivos falhanços, resolve ‘resistir’ reunindo os cacos e adiar um final abrupto.

Ao fim de algumas peripécias partidárias prévias (que o futuro nos vai esclarecer) começam as alucinantes reuniões com Portas do que resultou o alinhavo de um esboço de projecto de prossecução governativa, baseado na existência de uma maioria formal, mas irreal. Levou-o a Belém e saiu de lá incumbido de a alterar. Ninguém conhece os termos que o Presidente da República terá exigido ao primeiro-ministro para permanecer no cargo. Sabemos que depois de mais umas quantas reuniões é reconstruído num ‘novo’ acordo que evitando definir qualquer estratégia política para a situação do País, entreteve-se a proceder uns arranjos de poder no seio da coligação. Fizeram-se ‘partilhas’ como é usual nos procedimentos sucessórios quando o ‘proprietário’ passa à condição de ‘finado’.

Depois destes arranjos que - segundo se depreende - satisfizeram Belém teria sido acordado – entre quem? - prosseguir por mais algum tempo o velório.

Primeiro, o anúncio público da ocorrência por parte de 2 dirigentes partidários (um deles transformado num poderoso e silencioso figurante), num hotel de Lisboa, incidindo em alterações radicais na orgânica do Governo da República e repartição de cargos e competências. Sobre a política a seguir, num imaginário 2º período do ‘resgate’, uma mão cheia de banalidades essencialmente dirigidas para o exterior, para os ‘mercados’. Os portugueses continuam a assistir atónitos a este ‘filme’.

Neste momento, está em cena um ‘arraial em Belém’ que pretende – sob uma aparente ‘formalidade democrática’ – incluir, no inarrável ‘filme’, um sketch com novos actores, convidados a figurar num movimentado carrossel de representações (partidos, parceiros sociais e ‘individualidades’). Do que é possível constatar nenhum papel foi atribuído a estes novos actores. São – no conceito de Belém – fastidiosos ‘figurantes’. Solicita-se que entrem e saiam de cena rapidamente e o mais discretamente possível.

O Presidente no meio deste imbróglio tornou-se um anotador. A realização do ‘filme’ – se acaso tivéssemos direito a sabê-lo – deverá estar entregue a uma grotesca caricatura de Hitchcock, i. e., a um personagem sem talento , incapaz de dominar uma matéria tão sensível como é o ‘suspense’. Que frequentes vezes se ‘cola’ ao filmes de terror.

Na realidade, os dados – viciados - estão (foram) lançados há muito tempo. Na eleição de Cavaco Silva para o seu 2º. mandato. Os portugueses não querem ver o filme (até ao fim) mas por este andar vão ser compelidos a isso. De concreto podemos anunciar: não existirá um ‘happy end’.

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