Timor - O ocaso de um herói

Uma delegação representando manifestantes provenientes da região de Liquiçá, incluindo Vicente da Conceição "Rai Los", foi hoje recebida pelo Presidente timorense, Xanana Gusmão, no segundo dia da sua permanência na capital sob protecção das Nações Unidas.

Nota: Um chefe de Estado nunca recebe quem se manifesta contra uma decisão judicial.

Comentários

Anónimo disse…
Timor "aconteceu" também pela nossa ajuda... amanha não se esquçam de votar...
Anónimo disse…
sim, certo... mas já concordas que se negoceie com terroristas, não é? Tipo Mário Soares... Enfim, um peso 2/3/4 medidas... Mas tu és mesmo assim...
e-pá! disse…
Xanana Gusmão é um incontestado herói da luta de libertação de Timor-Leste. Todavia é, também, um homem, com o seu inevitável e rico percurso político do qual salientamos:
1.) O seu inicial envolvimento com a FRETILIN nos anos de 75;
2.) a participação na declaração unilateral de independência (República Democrática de Timor-Leste);
3.) a impotência da invasão de Timor pela Indonésia (9 dias depois);
4.) a assumpção do cargo líder da resistência maubere à ocupação;
5.) a profícua actividade diplomática, a partir das dificeis condições da montanha, no massacre do cemitério de Sta Cruz;
6.) a sua prisão em 1992
7.) o seu julgamento na Indonésia, sem direito a defesa;
8.) à sua condenação a prisão perpétua;
9.) a realização do referendo de 30 de Agosto 1999;
10.) a opção livre e esmagadora, nesse referendo, do povo timorense pela independência;
11.) os tempos do “terror indonésio” que se seguiram ao referendo;
12.) a sua libertação, em 1999, da prisão de Cipinang (Jacarta), sob a pressão diplomática internacional;
13.) o seu regresso a Timor;
14.) a liderança de uma campanha de reconciliação e reconstrução;
15.) a governação, em parceria; com a administração local da ONU;
16.) a emergência como líder incontestado da nova nação;
17.) a sua eleição, em Abril 2002, com expressiva margem de votos, como presidente de Timor-Leste;
18.) a independência formal de Timor em Maio 2002;
19.) a vitória da FRETILIN nas eleições legislativas e constituintes;
20.) a formação de um governo presidido por Mari Alkatiri;
21.) uma acentuada viragem política e ao surgimento de crescentes dificuldades de relacionamento institucional;
22.) a ruptura definitiva, em 2006, com o governo de Alkatiri, provocando a sua demissão;
….

Há um longo, riquíssimo, e algo misterioso, percurso. Esteve presente, e influenciou, todas estas etapas. A sua crise com a FRETILIN é pública e notória, desde 2002, quando teve necessidade de afirmar, acusando: “perdemos a noção da nação porque nos agarramos ao sentido dos interesses partidários”.
Mas, todavia, a sua dissidência é muito mais longínqua. Começa na resistência, em 1987-88, como comandante chefe das FALINTIL, onde escreve num relatório extremamente crítico para coma a direcção política (FRETILIN): “Doze anos depois, temos que reconhecer com amargura os efeitos que uma estratégia política mal traçada proporcionou ao Povo Maubere e o levou desastrosa situação a que ainda ninguém conseguiu pôr fim! “

A actual crise, com a FRETILIN, persiste. A recente ilibação de Mari Alkatiri, pelo MP timorense, fragiliza-o. A intenção de Mari Alkatiri disputar as próximas eleições para a presidência agrava o “clima” político timorense. Não agrada aos australianos, nem à influente (politicamente) Igreja Católica. Para Xanana é uma provocação (política). A saída que privilegia é abandonar o cargo de presidente da República (já o tinha feito em outras crises). Pelo curto caminho que lhe resta, optou por enveredar nas infindáveis malhas da intriga que pululam em Timor. É o que, infelizmente, representa a audição de Rai Los, à frente de manifestantes contra a descriminilização judicial de Alkatiri. Depois da intromissão no poder executivo vai ser provocado para interferir no poder judicial.

Esperemos, em nome de um brilhante trajecto de luta e acção política que resista a esta tentação. Merece, de facto, com este invejável curriculum, sair pela porta grande... e ser objecto do reconhecimento de todos os mauberes. Merece-o!
Mano 69 disse…
Quem é que não vai a Dili e não quer ver o presidente?
e-pá! disse…
Mano 69:

Lá me vou arriscar a mais uma "inferência" (como gosta de lhe chamar).

- Não me diga que é Bento XVI...

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