Modelo alemão em perguntas e respostas

As menores podem abortar sem autorização dos pais?
Valem as regras gerais do direito da saúde, isto é, a adolescente partir dos 14-16 anos que tenha capacidade de discernimento para perceber o sentido e alcance da intervenção médica pode (e deve) dar o consentimento informado.


Há um período de reflexão antes da prática do aborto? De quantos dias?
Sim. De 3 dias.

Há intervenção de psicólogos e assistentes sociais no processo?
Os Centros de Aconselhamento explicam os métodos abortivos, os preços e os riscos do aborto; explicam ainda os direitos sociais, nomeadamente das mães solteiras ou das pessoas com poucos recursos económicos. Por fim, devem dar as informações às mulheres e ao casal sobre o conflito de valores que atravessam, por forma a que tomem uma decisão informada, nomeadamente relativamente ao valor da vida intra-uterina.
O médico que leva a cabo a interrupção da gravidez não pode ser o mesmo que realiza o aconselhamento.

Depois do aborto, as mulheres são obrigatoriamente encaminhadas para uma consulta de planeamento familiar?
Não está previsto na lei.

Há algum limite máximo de número de abortos que cada mulher pode fazer?
Não.

O método abortivo utilizado (químico ou instrumental) é escolhido pela mulher ou pelo médico?
Como toda a intervenção médica, o médico propõe os métodos mais apropriados ao caso concreto e o paciente dá o seu consentimento informado.


São pagas taxas moderadoras?
O sistema de saúde alemão tem por base o seguro obrigatório de saúde (sistema de Bismarck), não o SNS (sistema de Beveridge).
Todavia, o aborto não é pago pelos seguros obrigatórios, nem os médicos podem cobrar honorários pela intervenção: os honorários abrangem apenas os custos dos medicamentos, do eventual internamento e cuidados de enfermagem.
Porém, em alguns Länder, os governos pagam o aborto às mulheres sem recursos económicos.

Fica algum registo sobre as mulheres que já fizeram um aborto no SNS?

Não há SNS. Mas como toda a intervenção médica, obviamente há um processo clínico que é confidencial e protegido pela legislação de dados pessoais.

Há parcerias público-privadas para a realização de abortos?

Os serviços de saúde na Alemanha são maioritariamente prestados por clínicas privadas, financiadas pelas seguradoras. A diferença neste acto médico é que as seguradoras não pagam o serviço.

O que é que acontece às mulheres que praticam abortos depois das 10 semanas? São julgadas e presas?

O IVG a pedido da mulher é permitido até às 12 semanas após a nidação (isto é, 14 semanas após o dia da última menstruação).
Após esse prazo os médicos recusam-se a violar a lei. Se o fizerem e houver denúncia, naturalmente o Ministério Público abre um inquérito contra todos os envolvidos e as consequências poderão ser graves, quer no plano disciplinar, quer do direito administrativo, quer do direito penal. Assim, quer as mulheres, quer os profissionais de saúde são julgados e punidos se não cumprirem a lei.

Continua a haver aborto clandestino? Como é que ele é punido?
Será residual. Havendo notícia do crime, é naturalmente punido. O Estado de Direito na Alemanha é levado muito a sério.

Quais são os critérios de atribuição de licenças a estabelecimentos de saúde para a prática de abortos?
Os critérios normais da instalação de estabelecimentos de saúde. Trata-se de um acto médico sujeito às regras gerais e que normalmente tem lugar em clínicas ou hospitais que têm muitas outras valências.

Perguntas: Margarida Davim (Semanário SOL)
Respostas: André Pereira (Centro de Direito Biomédico da Universidade de Coimbra)

Comentários

Anónimo disse…
Apesar de achar abominável tal practica clinica, importa agora mitigar os efeitos de uma lei desadequada.

Só espero que os nossos impostos não sirvam para pagar abortos a irresponsaveis. Prefiro que esse mesmo dinheiro vá de uma forma mais proveitosa para refugios de acolhimentos de crianças.
No minimo, quem quiser fazer um aborto que paga do seu.
Com o referendo criou-se mais um problema onde não havia. Para alem de não ter resolvido nenhum.
Chicomartins
Anónimo disse…
Presunção e água benta, cada um toma a que quer...

Vide, "Eu sou tão bom!!!!"
Anónimo disse…
parece que, infelizmente, o modelo alemão e o aconselhamento prévio foi eliminado. Mas quem votou sim na consulta popular, não deixo de lamentar tal facto.
Anónimo disse…
ERRATA...
Deve ler-se: Mas para quem votou sim - como foi o meu caso - na consulta popular, não deixo de lamentar tal facto.

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