Irlanda - Mais um escândalo (2)

A Irlanda tem-se caracterizado pela influência eclesiástica a todos os níveis do poder. O reaccionarismo católico só encontra paralelo na dimensão dos escândalos do seu clero. Não há lei modernizadora que não depare com a intolerância da Igreja.

Ainda está na lembrança de todos a ordem do tribunal para reter uma adolescente cujos pais a queriam levar a Londres para abortar, na sequência de uma violação. O tribunal negava-lhe o direito de sair do país perante uma campanha de apoio orquestrada pelos padres. Depois explodiu com estrondo a denúncia do bispo que ocultava a paternidade mas transferia fundos da diocese para criar o filho.

Nos conventos, até 1960, enclausuravam-se as mães solteiras que “envergonhavam a família”, a quem roubavam os filhos, e outras que convinha encarcerar para manter indivisa a herança. Eram ultrajadas e maltratadas. Foi a crueldade no máximo esplendor, com o conluio das famílias e do clero católico, durante longas décadas, até à decisão dos tribunais, que levou ao encerramento dos conventos/prisões e à libertação das detidas.

Agora surgem acusações de violências e abusos comprovados num relatório impecável: privação de alimentos, violências sexuais e agressões físicas a crianças. Um oceano de horrores em poças de água benta.

Revela-se a perversão, o drama de milhares de crianças a quem roubaram a felicidade e os crimes do clero (padres e freiras) contra vítimas que deviam cuidar. O que revolta é a inépcia do Estado para controlar instituições religiosas porque a autonomia do Estado cedeu perante a conivência que impede a defesa da dignidade humana e a investigação dos crimes.

Durante seis décadas foram vítimas de abusos sexuais, violências físicas e humilhações, milhares de crianças, com o conhecimento das autoridades políticas e religiosas, com a cultura do silêncio a vigorar enquanto a vida de crianças era dramaticamente destruída.

Entretanto, enquanto se mantém o silêncio papal e o anonimato dos criminosos, uma lei negociada há alguns anos deixa ao Estado a responsabilidade dos pagamentos de 90% das indemnizações. Só 10% cabem á riquíssima Igreja irlandesa.

Há outro problema que ninguém tem coragem de levantar, o da defesa dos direitos das freiras e dos monges enclausurados, a necessidade de psicólogos, assistentes sociais e médicos verificarem se a clausura é uma decisão livre ou a reclusão coberta pelo manto da fé e pelo poder discricionário do clero. A violência não é só contra crianças.

Nota: Não podemos esquecer as crianças vítimas das madraças islâmicas.

Comentários

E entretanto,alguém mantém-se comprometedoramente calado.
Mas amanhã, bate-se com a mão no peito, canta-se em latim, e espera-se que tudo passe sem grandes ondas.
O pior é que não passa ...
E cada vez mais os povos, mesmo o reaccionariamente católico irlandês, começam a sentir que algo está mal, algo vai mal, algo tem de mudar.
Julio disse…
A seita papal sempre acumulou crime ao longo da sua história.
Só que hoje é mais fácil descobri-lo.
Confiar em padres é sempre um risco agudo!

Quem deixa os filhos aos cuidados de “castos varões”
terá um dia para se arrepender muitas razões!
polytikan disse…
http://imagens.webboom.pt/recurso?&id=209047
Anónimo disse…
leiam esse absurdo
http://www.deuslovult.org/2009/05/21/a-irlanda-e-a-difamacao-ou-a-endemia-abusiva-irlandesa/

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