Manuel Alegre e MIC
E se Manuel Alegre e o MIC avançarem para a formação de um partido que se apresente às próximas eleições legislativas?
Independentemente de qualquer juízo de valor sobre se tal vai contribuir ou não para uma melhoria na qualidade da democracia portuguesa (os meus camaradas de blogue e os leitores bem sabem que eu sou, por questão de princípio, contra maiorias absolutas), tal terá algumas consequências previsíveis:
- Tal partido não conseguiria tirar o tal milhão de votos ao PS, como Alegre logrou nas Presidenciais. Primeiro, porque se Alegre conseguiu essa façanha, tal deveu-se à má escolha de candidato oficial por parte do PS. Mário Soares é uma personalidade extraordinária e incontornável da política portuguesa. No entanto, Mário Soares cumpriu dois mandatos como PR no passado. Não obstante não existir impedimento constitucional a um terceiro mandato interpolado, tal terá assustado parte significativa do eleitorado. Por outro lado, a forma como o PS escolheu Soares como candidato soou, no mínimo, como imposição por parte da cúpula. Finalmente, para além dos círculos eleitorais urbanos, onde Alegre poderia alcançar alguns mandatos, dificilmente o conseguiria nos círculos mais rurais, dado a exiguidade do número de deputados a eleger, quer pela forte implantação no terreno da máquina do PS. O caciquismo ainda é, infelizmente, um factor político de peso em Portugal. A hemorragia do PS será mínima.
- No entanto, o MIC erigido em partido tem o potencial de roubar votos à esquerda, leia-se ao BE e, em menor medida, ao PCP. O BE será o partido que proporcionalmente mais perderá com a eventual emergência desse novo partido, uma vez que terão que disputar alguns lugares elegíveis na raspagem do tacho dos últimos quocientes do método de Hondt.
- No fundo, o eleitorado sabe que, ainda que Alegre fosse um candidato interessante e sedutor para o lugar de Presidente da República, talvez não o fosse para uma posição de ministro ou parceiro de uma coligação. Por outro lado, a espada de Damócles do fantasma PRD estaria sempre sobre a sua cabeça caso se limitasse a ser mais um partido de resistência, a adicionar ao BE e ao PCP.
- Alegre fundando o seu partido, dificilmente passará de uma meia dúzia de deputados, mesmo que alcance um resultado razoável em termos percentuais. Alcançando este objectivo, o que fará com os seus assentos na AR? Das duas uma, ou faz coligação com o PS e voltamos ao mesmo status quo, ou se converte numa reedição do Bloco de Esquerda em que não se pode fumar charros nas reuniões do partido.
Alegre deverá pensar muito bem na sua decisão. Tudo dependerá também das cenouras que a direcção do PS lhe der para o convencer a ficar. E Alegre que pense também cautelosamente na teia que Cavaco Silva já está a tecer para forçar um governo de Bloco Central.
Independentemente de qualquer juízo de valor sobre se tal vai contribuir ou não para uma melhoria na qualidade da democracia portuguesa (os meus camaradas de blogue e os leitores bem sabem que eu sou, por questão de princípio, contra maiorias absolutas), tal terá algumas consequências previsíveis:
- Tal partido não conseguiria tirar o tal milhão de votos ao PS, como Alegre logrou nas Presidenciais. Primeiro, porque se Alegre conseguiu essa façanha, tal deveu-se à má escolha de candidato oficial por parte do PS. Mário Soares é uma personalidade extraordinária e incontornável da política portuguesa. No entanto, Mário Soares cumpriu dois mandatos como PR no passado. Não obstante não existir impedimento constitucional a um terceiro mandato interpolado, tal terá assustado parte significativa do eleitorado. Por outro lado, a forma como o PS escolheu Soares como candidato soou, no mínimo, como imposição por parte da cúpula. Finalmente, para além dos círculos eleitorais urbanos, onde Alegre poderia alcançar alguns mandatos, dificilmente o conseguiria nos círculos mais rurais, dado a exiguidade do número de deputados a eleger, quer pela forte implantação no terreno da máquina do PS. O caciquismo ainda é, infelizmente, um factor político de peso em Portugal. A hemorragia do PS será mínima.
- No entanto, o MIC erigido em partido tem o potencial de roubar votos à esquerda, leia-se ao BE e, em menor medida, ao PCP. O BE será o partido que proporcionalmente mais perderá com a eventual emergência desse novo partido, uma vez que terão que disputar alguns lugares elegíveis na raspagem do tacho dos últimos quocientes do método de Hondt.
- No fundo, o eleitorado sabe que, ainda que Alegre fosse um candidato interessante e sedutor para o lugar de Presidente da República, talvez não o fosse para uma posição de ministro ou parceiro de uma coligação. Por outro lado, a espada de Damócles do fantasma PRD estaria sempre sobre a sua cabeça caso se limitasse a ser mais um partido de resistência, a adicionar ao BE e ao PCP.
- Alegre fundando o seu partido, dificilmente passará de uma meia dúzia de deputados, mesmo que alcance um resultado razoável em termos percentuais. Alcançando este objectivo, o que fará com os seus assentos na AR? Das duas uma, ou faz coligação com o PS e voltamos ao mesmo status quo, ou se converte numa reedição do Bloco de Esquerda em que não se pode fumar charros nas reuniões do partido.
Alegre deverá pensar muito bem na sua decisão. Tudo dependerá também das cenouras que a direcção do PS lhe der para o convencer a ficar. E Alegre que pense também cautelosamente na teia que Cavaco Silva já está a tecer para forçar um governo de Bloco Central.
Comentários
Nenhuma organização pode incubar durante tanto tempo, sem enquistar-se e perder todo o tipo de vitalidade.
O espectro mobilizador do MIC, diria que, no actual momento político, irreal, ajudou pela visibilidade histórica do seu líder - na realidade um general que pela imobilidade fez desertar o seu exército - algumas causas da Esquerda dentro e fora do PS.
Covenhamos que mais fora do que dentro, mas foram todas causas cívicas.
Neste momento, M. Alegre, não têm condições - e julgo mesmo que não viverá essa ambição - para formar qualquer partido, que venha a disputar as legislativas deste ano.
Por outro lado, M. Alegre, sente que tem algo de reconhecimento para transmitir ao MIC, que catalizou e conseguiu dinamizar para combater a candidatura de Cavaco e demonstrara na prática o erro estatégico de Socrates ao apostar em Soares.
Provavelmente, sente o dever político de justificar-se porque, em tempo devido, não teve consciência cívica, nem estofo moral, para avançar, ou então, dissolver, formalmente, o MIC.
Deixou o MIC em "banho-maria" e os ânimos foram arrefecendo e, neste momento, a consulta que pretende promover é uma quimera. Uma simpática quimera, sem consequências.
E, M. Alegre deve continuar no PS, cada vez mais solitário, mas sem ter de suportar o ónus de poder ser acusado de ter provocado danos na estratégia do PS.
Nestas condições, com a anuência ou a oposição do MIC, não aceitaria continuar a ocupar o lugar de deputado que lhe é "oferecido" por Sócrates, nem cargos de direcção.
Reservava-me, lutava, para conseguir o honroso estatuto de ser uma referência moral do socialismo e do espirito republicano, dentro e fora do PS.
Porque, em minha opinião, o grande objectivo eleitoral do PS para as próximas legislativas - manter a maioria absoluta - está irremediavelmente comprometido.
E, M. Alegre, não deve fazer nada que o possa transformar em "bode expiatório", a sacrificar no altar das oferendas, por alguns neoliberais da ala Direita do PS.
A eventual perda da maioria absoluta vai provocar arrumações na casa, se não, obras estruturais.
Devem ser os defensores de políticas neoliberais, envergonhadamente denominadas de pragmáticas, a suportar essas custas...