A moral e os bons costumes
Foi há cinquenta anos na Figueira da Foz. Eu era um adolescente muito magro obrigado a usar um fato de banho com uma saia dianteira que ocultasse eventuais entusiasmos e uma camisola interior que tapasse algum pêlo que despontasse no peito.
O cabo de mar era intransigente na defesa da moral. Um rapazinho de 14 anos não poria em causa a ordem estabelecida e os bons costumes. Portugal não era um país onde o corpo se expusesse como soía em países de baixas temperaturas e elevada devassidão.
Hoje, se alguém se apresentasse numa praia portuguesa, nos preparos que a lei prescrevia então, seria de novo alvo de suspeita e não era a polícia que o incomodava, eram médicos que duvidariam da sanidade mental.
Lembrei-me deste episódio com a notícia iraniana de que a respectiva polícia passou a vigiar os abusos das mulheres (maldita misoginia) que usam véus incorrectos e deixam ver algum cabelo. A defesa dos costumes e a vigilância moral ficarão a cargo da polícia islâmica. Maomé pode dormir descansado, as prevaricadoras serão chicoteadas em público.
O Irão de hoje é o Portugal da minha adolescência. O Salazar de lá - Ahmadinejad - é o mesmo biltre moldado pelo seminário e pela demência dos bons costumes. A liberdade é uma ousadia que a polícia se encarregará de reprimir.
Diz um membro da comissão cultural do Parlamento: «um homem que veja estas manequins na rua não prestará mais atenção à sua mulher em casa, destruindo o fundamento da família». A tara não é exclusiva do Islão. A repressão sexual é uma forma de domínio e exercício do poder.
O cabo de mar era intransigente na defesa da moral. Um rapazinho de 14 anos não poria em causa a ordem estabelecida e os bons costumes. Portugal não era um país onde o corpo se expusesse como soía em países de baixas temperaturas e elevada devassidão.
Hoje, se alguém se apresentasse numa praia portuguesa, nos preparos que a lei prescrevia então, seria de novo alvo de suspeita e não era a polícia que o incomodava, eram médicos que duvidariam da sanidade mental.
Lembrei-me deste episódio com a notícia iraniana de que a respectiva polícia passou a vigiar os abusos das mulheres (maldita misoginia) que usam véus incorrectos e deixam ver algum cabelo. A defesa dos costumes e a vigilância moral ficarão a cargo da polícia islâmica. Maomé pode dormir descansado, as prevaricadoras serão chicoteadas em público.
O Irão de hoje é o Portugal da minha adolescência. O Salazar de lá - Ahmadinejad - é o mesmo biltre moldado pelo seminário e pela demência dos bons costumes. A liberdade é uma ousadia que a polícia se encarregará de reprimir.
Diz um membro da comissão cultural do Parlamento: «um homem que veja estas manequins na rua não prestará mais atenção à sua mulher em casa, destruindo o fundamento da família». A tara não é exclusiva do Islão. A repressão sexual é uma forma de domínio e exercício do poder.
Comentários
CE: um verdadeiro Zézé Camarinha da Figueira da Foz, embora não se possa considerar (atenta a eventual presença de algum pêlo - queria dizer pêlo, ou não?) um metrossexual...
Esperança o vanguardista só não foi o percursor da sunga e da tanga porque não o deixaram.
Fica contudo a intenção do comunista modernasso...
No Irão e até nalgumas zonas mais recônditas da Turquia, o fanatismo religioso, tudo condiciona...não só os fatos de banho.