Momento de poesia
Autobiografia
Cada qual tem os vícios que cultiva,
Uns mais inócuos, outros mais perversos.
Eu fui marcado a ferro e em carne viva
Por esse vício oculto: Fazer versos.
Faço versos de amor e de protesto.
Grito versos de esperança e desalento.
A tudo versos dou, versos empresto,
E em versos me consumo e me sustento.
Em versos corro e caio e me levanto.
Em versos tiro e dou, recuso e peço.
Em versos sofro e rio e choro e canto.
Em versos minto e em versos me confesso.
Em versos me entristeço e me embriago.
Em versos me suicido e ressuscito.
Em versos peço esmola, em versos pago.
Em versos nego e em versos acredito.
Subi de verso em verso a senda errada
De uma existência de versos mal cerzida
E desço agora em verso a mesma escada,
Parodiando em verso esta descida.
Em verso e sempre em verso, como um louco,
Que se obstina em verso e dia-a-dia
No resumir em verso o muito e o pouco
De uma vida que em versos não cabia.
Em verso conquistei Lisboa aos mouros.
Em verso fui herói de Aljubarrota.
Roubei, pirata em verso, mil tesouros,
E naufraguei, em verso, a minha frota.
Em verso sou marujo e subo ao mastro
Da caravela em verso que inventei.
Sou Albuquerque, em verso, e Gama, e Castro.
Em verso pajem fui, príncipe e Rei.
Em verso ardi nas chamas da fogueira
Da Santa Inquisição. Em versos dei
Meu corpo em verso às forcas de madeira
De um D. Miguel que em verso detestei.
Soldado fui em verso nas trincheiras
De uma Flandres que em verso concebi
E em verso desfraldei rubras bandeiras
Nas batalhas que em verso combati.
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Armando Moradas Ferreira
Comentários
Que me encantam e alegram em cada dia
Nunca pare de enviar os seus poemas
Você mesmo é homem feito poesia
É pena é que o Poeta da tenha morrido.