«O Paradoxo do Ornitorrinco» - Textos sobre o PSD

O subtítulo do livro de José Pacheco Pereira (JPP) é enganador pois é maior o ataque ao PS do que ao PSD, chegando a juntar aos maus Governos de Barroso e de Santana os de Guterres, cujo primeiro mandato – o único em que, até hoje, um Governo minoritário cumpriu a legislatura –, foi seguramente o melhor de sempre.

Igualmente a referência (embora justa) ao FCP e ao PS, citando a cumplicidade de Pinto da Costa com Fernando Gomes, é redutora e susceptível de induzir em erro quem não saiba que o PSD está muito mais comprometido com coisas da bola que ameaçam cair na impunidade. Basta lembrar os Loureiros (pai e filho), Gilberto Madaíl, Santana e outros que passaram pelo parlamento e pelas autarquias com as cores do PSD.

Mas deixemos a luta partidária que o militante não descura, bem como a opção pela linha dura da economia liberal, mitigada com vagas declarações de preocupações sociais, com vista a futuros combates partidários. Esqueçamos igualmente a acusação ao CDS de que é a muleta do PS, como se Portas, Cardona, Bagão Félix e Adelino Salvado não tivessem feito parte do bando dos quatro que procurou, e conseguiu, decapitar o PS.

Onde JPP merece ser lido, nos textos que escolheu e que não constituem surpresa para quem o ouve na «Quadratura do Círculo» ou visita com regularidade o «Abrupto», é na denúncia da corrupção a que as campanhas partidárias se prestam e, aí sim, facilmente se intui que é uma perversão que atinge o PSD, do mesmo modo que o PS e o CDS.

Desde 2003, em que Maria José Morgado lançou, em conjunto com o jornalista José Vegar, o livro «O Inimigo sem rosto, fraude e corrupção em Portugal», ninguém foi mais corajoso do que JPP na denúncia da corrupção, desta vez no interior dos partidos.

JPP é um homem culto, inteligente e com raro sentido de dignidade. Sem perdermos de vista que é militante do PSD, devemos lê-lo com atenção e tirar ilações sobre interesses ilegítimos que passam pelo interior dos partidos sem pensarmos que isso só acontece naqueles em que não votamos.

Dou por bem empregados os 15 euros do livro e penso que JPP merece os 10% dos direitos de autor. O que diz de Santana ou de Menezes não é pior do que outros militantes do PSD pensam sem a coragem de o afirmar. Mas nem todos são Zitas Seabras disponíveis para todos os líderes. JPP jamais estará disponível para renunciar ao que pensa e à liberdade de afirmá-lo.

Comentários

e-pá! disse…
Não li o librete do "desassossego" de JPP.
Mas o ornitorrinco é um interessante paradoxo enquanto animal:
Mamífero e oviparo, simultaneamente!
O leite escorre pelos pêlos abdominais das fêmeas.
Enfim, muito semelhante ao PSD que ora é um pacato oviparo (põe ovos em cada cesta!) e, de repente, lembra-se de quer mamar no leite que (ainda) vai escorrendo, apesar de (algumas) tetas terem secado e, às bicadas e outras peripécias "quotizáveis", rompe da casca do ovo e aparece esplendoroso em Torres Vedras.
O único erro de JPP é que, segundo as leis naturais, o "ornitorrinco", já paradoxal na mistura de quase incompatibilidades, ameaça tornar-se imortal, pois já devia ter morrido ( já sobreviveu o dobro do tempo esperado).

Mas, confesso, nem esta intrigante discrepância me fará ler o texto.

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